Christine Lagarde bem se tem esforçado para manter o jogo escondido, tentando guardar alguns trunfos para lidar com a incerteza nos próximos meses. Mas há cada vez mais economistas a acreditar que o ciclo mais violento de subida de juros desde o início do euro possa estar muito perto de terminar. Em cerca de um ano, o Banco Central Europeu (BCE) fez nove aumentos de juros, num total de 4,25 pontos percentuais, levando as taxas diretoras para máximos. Este aperto sem precedentes dificultou o acesso ao crédito, intensificou a pressão sobre as famílias com empréstimos a taxa variável e motivou críticas por parte de governantes do Sul da Europa – incluindo do Governo português e do Presidente da República – à forma agressiva como o banco central quer voltar a colocar a inflação na meta de 2%. Mas poderemos estar perto do fim deste ciclo?
Após uma retórica muito forte nos últimos meses – em que não deixava margem para dúvidas sobre novos agravamentos dos juros –, Christine Lagarde indicou agora que as próximas decisões não estão predefinidas e que irão depender da evolução dos indicadores e das previsões para a economia da Zona Euro. “O que posso assegurar é que [na próxima reunião de 14 de setembro] não iremos cortar juros. Mas, por outro lado, poderemos ter um aumento ou uma pausa”, indicou a banqueira central na conferência de imprensa após a última reunião de política monetária, de 27 de julho, em que o BCE decidiu um novo acréscimo de 0,25 pontos percentuais, colocando a taxa de depósito em máximos e a das principais operações de refinanciamento no nível mais alto em 15 anos (ver gráfico).