Três ministros – da Economia, António Costa e Silva, da Saúde, Manuel Pizarro, e da Ciência e Tecnologia, Elvira Fortunato –, um secretário de Estado adjunto, Miguel Alves, e o próprio primeiro-ministro, António Costa, marcaram presença na Bial, que inaugurou uma nova unidade de produção de antibióticos e expandiu a sua unidade industrial. Mas só o primeiro-ministro usou da palavra, para assinalar o “orgulho” que sentiu ao “testemunhar” o que tinha acabado de ver.
“Foi um investimento decidido em 2019, a que se seguiram os dois anos mais desafiantes e atípicos das nossas vidas. Mas a Bial não parou e continuou a investir, sendo um exemplo para o momento que vivemos agora”, frisou António Costa, dirigindo-se a um auditório cheio de convidados do meio empresarial, científico e académico. “É preciso não pararmos e criarmos as condições”, pois, “temos de estar preparados para apanhar a onda pós-covid”, continuou o primeiro-ministro, mostrando satisfação por “83% das empresas manterem a intenção de continuar, ou mesmo acelerar, os investimentos previstos”, de acordo com os “resultados de um inquérito recente do INE”.
A cerca de ano e meio de completar 100 anos de existência, a Bial fez o maior investimento de sempre no campus científico da Trofa, para onde se mudou há 27 anos. Foram 30 milhões de euros de investimento, na duplicação da sua capacidade industrial e na criação de uma nova unidade de produção de antibióticos, que lhe permitirá passar a produzir em Portugal o que antes era feito no Canadá e contribuir para o aumento das exportações nacionais.
“Estamos a preparar-nos para os próximos 10, 20 anos”, justificou o CEO, António Portela, que fez questão de mostrar ao primeiro-ministro a “importância para o país deste aumento da capacidade instalada tendo em conta o panorama nacional”. Marcando mais uma etapa na afirmação internacional da farmacêutica, este investimento é também fruto de uma aposta continuada na Investigação e Desenvolvimento (I&D), para onde vai “mais de 20% da faturação da Bial”, que ascendeu a 325 milhões de euros. Só em 2021, foram “80 milhões de euros” para investigação.
“Somos um contribuinte muito especial para Portugal. Contribuímos para as exportações, aumentamos o emprego qualificado e potenciamos a capacidade científica das nossas universidades. O nosso país precisa muito disto”, disse António Portela a António Costa, pedindo que este não deixe “que as empresas optem por reduzir investimento em I&D para aguentar a situação económica” que se vive atualmente. “Reafirmo o nosso compromisso com a Ciência, de forma a alavancar o crescimento económico de Portugal”, concluiu.
Conquistar autonomia
Logo pela manhã, e antes de chegarem os convidados do Governo, António Portela explicava aos jornalistas como a nova unidade estava agora capaz de satisfazer todo o consumo do mercado nacional de antibióticos. Também a ampliação da unidade industrial, que produz todas as embalagens, permitirá à Bial passar de 10,5 para 23 milhões de embalagens. O mesmo para os antibióticos, que pode passar dos 1,5 milhões para os 3 milhões.
“Tem sido um ano duro e de muito trabalho”, confessou. Sobretudo porque expirou uma das suas patentes para a Europa, que implicou perdas que tiveram de ser compensadas de outras formas. Mesmo assim, “haverá um crescimento pequeno” da faturação deste ano. Por outro lado, há alívio por “ganhar autonomia” sobre a produção do que estava a ser subcontratado no Canadá, que agora passará a ser produzido mais barato em território nacional e exportado para o mercado americano.
É, aliás, no mercado norte-americano que está a proveniência de 21% da sua faturação, com os medicamentos que patentearam destinados à epilepsia e à doença da Parkinson. E foi esta “aliança de investimento em investigação e em capacidade produtiva” que foi evidenciada por António Horta Osório, chairman da Bial, perante a comitiva governamental.
“Portugal é a base e é daqui que continuará a exportar ciência” e a contribuir para “o futuro do país”, disse. “Os tempos estão difíceis e o próximo ano será ainda mais”, continuou, para frisar o “papel estratégico que a indústria farmacêutica pode ter na saúde pública”.
Investir 3% do PIB em Investigação e Desenvolvimento
António Costa percebeu a mensagem. E salientou o facto de ter sido “decisivo” o investimento em ciência para o aumento da capacidade industrial. “Não fosse tudo isto, as duas linhas de medicamentos da Bial continuavam a ser feitas no exterior”, reconheceu. “Se queremos dar um salto no desenvolvimento e cumprir a meta de aumentar em 2% ao ano a produtividade, é decisivo fazer investigação em ciência, na modernização tecnológica e depois ir ao mercado global”, justificando ser esta a razão de ter consigo os três ministros.
E pegando no exemplo da Bial, lembrou a importância de se cumprir em 2030 uma meta “tão importante como a do défice”: a de que haja “um investimento de 3% do PIB em I&D”. “Só assim se conseguirão pagar salários melhores e contribuir para um maior equilíbrio das contas externas”.
Mas há ainda outra meta a cumprir: a de “atingir 53% do PIB em exportações em 2030”. “Sem protecionismos, é preciso reforçar a nossa economia e a produção própria de bens essenciais”, concluiu, não sem antes voltar à indústria farmacêutica para dizer que “não podemos é ter na Índia 90% dos princípios ativos”.
Mas esta já seria outra conversa. Para já, o primeiro-ministro ficou com a certeza de que “a Bial continuará a andar”. Sorriu e brincou. “É por isso que me chamam otimista”.