“Sei bem como todo o processo de saída do Reino Unido da União Europeia vos afectou e preocupou. Mas, como sabem, o Acordo de Comércio e Cooperação com a União Europeia garante a participação em alguns programas, nomeadamente no Horizonte Europa”, disse.
A ministra falava por videoconferência na sessão de abertura do 15.º Luso, o encontro organizado pela Associação de Investigadores e Estudantes Portugueses no Reino Unido (PARSUK), onde defendeu que a “internacionalização da ciência, da inovação e do conhecimento está também” nas mãos da diáspora.
“Queremos reforçar a cooperação europeia nos quatro pilares do programa Horizonte Europa 2021-2027, com ênfase na participação nacional no European Research Council em projetos de investigação colaborativa, mas também nas parcerias institucionais”, vincou.
Quando negociou a saída da União Europeia (UE), o Reino Unido manteve o estatuto de membro associado ao Programa-Quadro de Investigação e Inovação Horizonte Europa, que tem uma dotação orçamental prevista de 95,5 mil milhões de euros para apoio às atividades de investigação e inovação.
Porém, o acesso britânico ao programa tem sido atrasado devido às divergências entre Londres e Bruxelas sobre o estatuto comercial da Irlanda do Norte no pós-Brexit, pondo em risco projetos científicos e a participação britânica em consórcios de investigação.
A Universities UK, uma entidade que representa as universidades britânicas, escreveu esta semana ao vice-presidente da Comissão Europeia, Maros Sefcovic, alertando para o risco de o Governo britânico romper a colaboração ainda este mês devido ao impasse.
“Investigadores em todo o continente aguardam há 17 meses para que esse acordo seja confirmado, e o impacto desse atraso está a ser profundamente sentido pelas instituições do Reino Unido e homólogas da UE”, lê-se na carta assinada pelo vice-reitor da universidade de Swansea, Paul Boyle.
Segundo este responsável, dados iniciais das primeiras rondas de financiamento do programa Horizonte Europa indicam que o Reino Unido caiu de segundo participante mais frequente no Horizonte 2020 para o sétimo lugar no programa atual e disse que alguns investigadores de universidades britânicas estão a abandonar projetos de colaboração europeus.
Perante o atraso no acesso, revelou, o Governo britânico está agora “num estágio avançado de planeamento de alternativas nacionais em grande escala abrangentes ao Horizonte Europa, fazendo uso dos milhares de milhões de libras de financiamento que foram reservados para associação”.
“Uma vez tomada a decisão de abandonar a participação no Horizonte Europa, prevemos que não será possível voltar” ao Programa Horizonte Europa, avisa Boyle.
O Luso 2022 decorre hoje no Centro Israelita em Londres e tem por tema “PARSUK para todos: unidos para o conhecimento” com o objetivo de debater papel da ciência na sociedade.
As sessões realizam-se em redor dos pilares comunidade, cultura e comunicação.
O presidente da PARSUK, Diogo Martins, afirmou que a “comunidade científica e académica [portuguesa no Reino Unido] está viva, é vibrante e tem vontade de dialogar, colaborar e estabelecer parcerias”.
Fundada em 2008, a PARSUK tem atualmente 2.300 membros.
De acordo com a Agência de Estatísticas do Ensino Superior (HESA), o número de estudantes portugueses nas universidades britânicas aumentou 122% desde os 3.805 no ano letivo 2016/17 para 8.470 em 2020/21, mas a procura terá diminuído no ano passado devido à mudança das condições de acesso e financiamento pós-Brexit.
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