As moratórias bancárias passaram de um balão de oxigénio que ajudou empresas e famílias a um potencial problema que ameaça retirar fôlego à banca e à economia portuguesas. A questão já não é sobre quanto tempo estes apoios vão durar, mas o que fazer quando terminarem, no final de setembro, e qual será a dimensão dos estragos. A Autoridade Bancária Europeia confirma à VISÃO que não irá prolongar novamente o prazo desta medida, que vigora até final de setembro, e os bancos, empresários e famílias deitam contas à vida. Vamos já numa fase acelerada da contagem decrescente e a margem de manobra para encontrar formas de mitigar o potencial efeito de precipício do fim das moratórias é cada vez menor. O Governo ainda não especificou como vai ajudar a conter este problema e está em negociações com o supervisor e o sistema bancário para encontrar uma solução. Mas os empresários desesperam por indicações da estratégia de saída e, na banca, a expectativa é a de que terá de haver algum tipo de solução definida até final de junho.
Olhando para os números, percebe-se a dimensão e o potencial destrutivo desta bomba-relógio. Portugal foi um dos países onde mais se recorreu às moratórias e que, por isso, tem agora um maior problema para resolver com a retirada deste apoio. No final de fevereiro, data dos dados mais recentes do Banco de Portugal, existiam 391 mil particulares e quase 55 mil empresas a beneficiar de moratórias. O valor total dos empréstimos abrangidos por este apoio era de 45,6 mil milhões de euros. É um montante semelhante ao da bazuca europeia que o País irá receber na próxima década, entre fundos do plano de recuperação e do quadro financeiro plurianual.
Nem todo este crédito está em risco de não ser pago quando as moratórias terminarem. Mário Centeno afirmou recentemente, no Parlamento, que apenas 6% (cerca de 2,7 mil milhões) está marcado como crédito em incumprimento. Mas aproximadamente 20% desses empréstimos – o que poderá implicar mais de nove mil milhões de euros – estão classificados como tendo um aumento significativo do risco. O governador do Banco de Portugal ressalvou, no entanto, que existem garantias associadas a esses créditos e que os bancos estão a provisionar as perdas potenciais com esses créditos. Contudo, na verdade, há muito por saber dentro dessa caixa negra, e a evolução da pandemia – e, como tal, da economia – nos próximos meses poderá alterar a situação, para o bem ou para o mal.
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