“É com espírito construtivo que abraço este desafio”, disse Mário Centeno numa declaração pública sobre a sua candidatura à presidência do Eurogrupo. “A robustez da condução da política orçamental dá-me toda a confiança. Tenho uma equipa absolutamente extraordinária a trabalhar no Ministério das Finanças”, afirmou o ministro.
Enumerando os “desafios importantes” que Portugal tem ultrapassado – como a redução da dívida, o fortalecimento do sistema financeiro, a melhoria das condições de financiamento da República e a recuperação do emprego -, o ministro das Finanças considerou que, com esta candidatura, “a nossa participação ativa na Europa pode ser reforçada”.
Defendendo o ideal europeu, Centeno declarou a sua “ambição de incentivar o fortalecimento do maior projeto da Europa nas últimas décadas”, e comprometeu-se a reforçar a “confiança mútua” dos estados da eurozona caso venha a ser eleito para o cargo ao qual acaba de se candidatar – e que acumulará com o de ministro das Finanças de Portugal.
“Enquanto ministro das Finanças, continuarei a trabalhar para continuar este caminho de fortalecimento da economia e do tecido social. Espero, a nível europeu, contribuir também para esse reforço”, disse ainda Mário Centeno.
Respondendo aos jornalistas, o ministro classificou os processos da saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo e de recapitalização da CGD como exemplos de “práticas de diálogo e colaboração construtiva” entre o Governo português e as instituições europeias.
Candidatura apresentada esta manhã
“O Governo português apresentou esta manhã a candidatura do Ministro das Finanças, Mário Centeno, à presidência do Eurogrupo. A eleição terá lugar na próxima reunião do Eurogrupo, agendada para segunda-feira, dia 4 de dezembro”, afirma o comunicado do Governo divulgado minutos após o fim do prazo para a apresentação das candidaturas ao Eurogrupo.
Mário Centeno conta, à partida, como o apoio da Alemanha, França, Itália e Espanha, assim como com o voto da maioria dos países do euro governados por socialistas.
A manutenção dos equilíbrios na União Europeia aponta para a eleição de um socialista para suceder a Jeroen Djisselbloem no Eurogrupo, já que o Partido Popular Europeu (de direita) detém três dos quatro lugares de topo na UE – Comissão Europeia, Conselho Europeu e Parlamento Europeu. É aqui que poderá estar a vantagem de Mário Centeno, mas também a do concorrente eslovaco Peter Kazimir, membro da família de centro-esquerda mas muito mais alinhado com as teses europeístas sobre a disciplina das contas públicas.
Centeno tem sido elogiado pelos seus pares por causa da redução do défice orçamental – o ex-ministro alemão das Finanças até o elogiou, chamando-lhe o “Ronaldo do Ecofin” -, e de ter tirado Portugal do Procedimento por Défices Excessivos. Contudo, ouviu recentemente vários alertas de Bruxelas sobre o crescimento da despesa no Orçamento do próximo ano. Além disso, Portugal saiu há apenas três anos de um duríssimo programa de ajustamento económico-financeiro. Observadores em Bruxelas criticam-lhe ainda o facto de passar muitas vezes despercebido nos debates internos do Eurogrupo. O seu passado de alto funcionário do Banco de Portugal, sem experiência política antes da entrada para o atual Governo, também não ajuda a conquistar o voto dos seus pares.
Na edição de hoje, o jornal Financial Times declara o ministro português como favorito e atribui-lhe a “impressionante recuperação económica” de Portugal, recordando que “encolheu o défice para o valor mais baixo em quarenta anos” e tirou o rating do País do nível de lixo.
O Conselho da União Europeia confirmou a existência de quatro candidaturas ao Eurogrupo, cujo presidente será eleito na segunda-feira, dia 4, através de uma votação por maioria simples.
Os três rivais de Mário Centeno são estes:
PETER KAZIMIR, Eslováquia
Também membro da família de centro-esquerda, o eslovaco Peter Kazimir pode marcar pontos à direita de Centeno por causa das suas posições habitualmente duras contra a Grécia – que têm soado como música celestial aos ouvidos duros do antigo ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble (substituído por um dos seus antigos secretários de Estado até à nomeação do novo Governo na Alemanha). Com bons resultados orçamentais para exibir – a economia vai crescer perto de 4% em 2018, o défice cairá para 1% do PIB e a dívida não ultrapassará 50% do PIB – contra si tem o facto de ser um membro relativamente recente da zona euro, à qual aderiu em 2009.
DANA REIZNIECE-OZOLA, Letónia
É a única mulher do grupo de candidatos, mas não é apontada como favorita pela imprensa internacional, até pelo facto de o partido que lidera a coligação governamental na Letónia estar ligado ao PPE. Antiga campeã de xadrez, tem apenas 35 anos e escassa experiência política. É membro dos Verdes, ministra das Finanças desde fevereiro de 2006 e, antes, exerceu funções de ministra da Economia durante pouco mais de um ano. Mas tem a seu favor uma carreira internacional sólida, construída no Banco Europeu de Investimento, Mecanismo Europeu de Estabilidade, Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento e Banco Mundial.
PIERRE GRAMEGNA, Luxemburgo
É liberal, é experiente politicamente e, embora oriundo de um país pequeno, vem de um dos parceiros que têm maior peso na UE. Mas o facto de a presidência da Comissão Europeia ser ocupada por um luxemburguês – Jean-Claude Juncker – dificulta as hipóteses de ser bem sucedido.