O cofundador da Altice, Armando, Pereira, afirmou esta quinta-feira que o Governo português “muitas vezes não vê a importância” do investimento do grupo francês em Portugal, que acaba de comprar a Media Capital, dona da TVI, por 440 milhões de euros (valor que inclui a dívida da empresa).
Durante a inauguração do segundo call center da Altice em Vieira do Minho, região da qual Armando Pereira é natural, o empresário garantiu que o investimento em Portugal vai continuar, mesmo que por vezes pareça que “não gostam” do grupo que comprou a PT Portugal em 2015, segundo a Lusa.
“A Altice investe em Portugal de uma maneira muito importante. Na semana passada aconteceu uma coisa importante aqui em Portugal, mas penso que, muitas vezes, o Governo português não vê essa importância”, afirmou.
Sobre a compra da Media Capital, que controla a TVI, a Rádio Comercial e o portal IOL, entre outros, Armando Pereira não espera que os reguladores levantem obstáculos. “Não deve haver muitos problemas”, sublinhou, referindo-se à necessária luz verde que terá de ser dada ao negócio pela Autoridade da Concorrência (AdC) e a Entidade Reguladora para a Comunicação Social. O parecer desta última entidade é vinculativo.
A área da Internet é aquela onde se espera que a AdC venha a impor remédios para autorizar a operação. Em conjunto, o portal Sapo, detido pela PT/Meo, e o IOL, propriedade da Media Capital, deverão ficar com uma posição de domínio do mercado, afirmam fontes do setor dos media ouvidas pela VISÃO.
Uma análise do BPI ao negócio, entretanto divulgada, refere que a aprovação dos reguladores pode atrasar o negócio entre a Altice e a Media Capital, principalmente se for feita uma “investigação aprofundada”.
Mas Armando Pereira mostra-se otimista: “Há ainda atores que vão intervir nessa decisão, mas não deve haver muitos problemas”, referiu o empresário que, em 2002, fundou a Altice com Patrick Drahi, o 92º homem mais rico do mundo no ranking da revista Forbes.
Greve avança na PT
Para amanhã, dia 21, mantém-se agendada a greve dos trabalhadores da PT/Meo, para protestar contra os planos da Altice de transferir centenas de funcionários para outras empresas suas fornecedoras. Cerca de 30 trabalhadores foram já notificados pela PT sobre a transferência, a decorrer nos próximos meses.
O Bloco de Esquerda apresentou há dias uma proposta de alteração à legislação laboral para mudar o regime de transmissão de estabelecimento, de modo a permitir que os trabalhadores possam opor-se à transferência do posto de trabalho para outras empresas. O PCP prometeu apresentar uma iniciativa idêntica, a discutir depois das férias parlamentares.
Esta figura jurídica permitiu já à PT transferir cerca de 150 trabalhadores para empresas externas, preparando-se agora para aplicar o procedimento a mais umas centenas. Mas o secretário de Estado do Emprego, Miguel Cabrita, veio esclarecer que “está já em curso uma ação inspetiva”, desencadeada pela Autoridade das Condições de Trabalho (ACT), sobre o eventual “uso abusivo” da lei por parte da Altice.
A atuação da Altice, desde que há dois anos adquiriu a PT por 5,7 mil milhões de euros, foi alvo das críticas do primeiro-ministro, António Costa, no Parlamento: “Receio bastante que a forma irresponsável como foi feita aquela privatização [pelo anterior Governo] possa dar origem a um novo caso Cimpor, com um novo desmembramento que ponha não só em causa os postos de trabalho, como o futuro da empresa”.
Na origem do “ataque” de Costa esteve também o “apagão” das antenas de comunicações da PT durante a tragédia de Pedrógão Grande, na qual morreram 64 pessoas. “Houve algumas [operadoras] que conseguiram sempre manter as comunicações e houve outra que esteve muito tempo sem conseguir comunicações nenhumas – e isso é muito grave”, salientou o chefe do Governo.
Depois, Costa frisou que, pessoalmente, já tinha tirado as suas conclusões: “Por mim, já fiz a minha escolha da companhia que utilizo”, disse, mantendo o tom crítico em relação à PT.