Capitalismo consciente? Parece uma contradição nos seus próprios termos. Mas não é, responde Luís Rochartre, CEO da Defloc, participada da Empordef, a holding das indústrias nacionais de defesa. “As empresas que duram com êxito são aquelas que ganham a admiração pública”, argumenta.
E qual é o segredo, segundo a teoria do capitalismo consciente? “Já há imensos estudos a mostrar que muitas das empresas de sucesso têm em primeiro lugar um propósito elevado, que transcende o próprio negócio – ganhar dinheiro é uma consequência e não o objetivo único”, diz Luís Rochartre. Com Luís Sousa, diretor-geral da Bio Rumo-Consultadoria de Ambiente e Sustentabilidade, e Bernardo Teixeira Diniz, co-fundador do Spirit Consulting Group, firma luso-espanhola, o CEO da Defloc forma o núcleo duro de recrutamento de executivos para a Associação Capitalismo Consciente-Portugal. Perseguem o objetivo de, em outubro, apresentarem publicamente a organização.
O “propósito elevado” é o primeiro dos quatro princípios estabelecidos, em 2009, pelos dois fundadores do Movimento do Capitalismo Consciente. São eles Raj Sisodia, consultor de grandes empresas e professor no Babson College, universidade privada americana de Economia, e John Mackey, co-fundador e CEO da Whole Foods, multinacional de supermercados de produtos biológicos, também americana.
Luís Rochartre procura dar um exemplo simples: quando começaram a Microsoft, Bill Gates e discípulos “só queriam pôr um computador na mesa de cada um de nós – o resto viria depois”. Resumindo para encurtar razões, o Movimento do Capitalismo Consciente vê a empresa como uma organização social que deve trazer algum tipo de benefício aos stakeholders, ou seja, todos os parceiros de negócios ou partes interessadas.
Neste conceito cabem os trabalhadores, clientes, gestores, proprietários, fornecedores, concorrentes, ONGs, o Estado, credores, sindicatos e pessoas ou empresas que se relacionem com determinada ação ou projeto. É um modelo que se contrapõe ao dos shareholders (acionistas), no qual o êxito da empresa se mede quase exclusivamente pelo seu lucro.
“Ter em atenção os stakeholders e não apenas os acionistas” é, aliás, o segundo princípio do capitalismo consciente enunciado por Luís Rochartre. Os restantes dois são a “cultura consciente” (“Não se pode ter um cuidado enorme com os clientes e tratar mal os trabalhadores da empresa”, exemplifica o CEO da Defloc) e a “liderança consciente” (“Quem dirige tem de ter a noção de que todos estes fatores dependem uns dos outros”, diz Rochartre). Isto é, ser-se “apenas uma cabeça em finanças não chega”.