Foram dois anos cheios de obstáculos e vicissitudes na vida do BPI, mas agora parece ter ficado finalmente o caminho limpo para que a instituição liderada por Artur Santos Silva e Fernando Ulrich possa enfrentar uma nova vida. Para cumprir as exigências do BCE, que o obrigava a diminuir a sua exposição a grandes riscos, aprovou finalmente a venda de dois por cento do capital do Banco de Fomento Angola (BFA) ao seu parceiro da Unitel por €28 milhões.
Por muito que tenha custado á administração largar a sua jóia da coroa, o BPI não encontrou outra alternativa senão entregar a maioria, a gestão e a hipótese de ter qualquer influência no destino do banco angolano. Estas três condições seriam, de acordo com a administração, essenciais para que o problema da exposição a Angola ficasse resolvida.
O BPI ficará agora com 48,1% do capital do BFA, enquanto a sua parceira Unitel (onde Isabel dos Santos domina) assegurará 51,9%. Uma inversão de posições que vai impedir que o banco português consolide cá os resultados obtidos com o negócio angolano. Ficará apenas a receber os respetivos dividendos.
Contas (quase) acertadas
Esta foi uma decisão que demorou a ser aprovada (só à segunda assembleia geral de acionistas), porque, além do parecer do BCE, era necessário acertar contas. O BPI tinha a receber €66 milhões de dividendos do BFA, relativos a 2014 e 2015, bem como 30 milhões de dólares referentes á tomada de posição, em dezembro de 2008, de 49,9% no BFA pela Unitel.
E só nos últimos dias é que a administração recebeu a confirmação de que o Banco Nacional de Angola tinha autorizado a transferência de €36,9 milhões, do exercício de 2015. Já a autorização de pagamento de €29,2 milhões referentes aos dividendos de 2014 está prometida para breve.
Mas foi também concluído o pagamento dos 30 milhões de dólares ainda em atraso. Já o pagamento dos €28 milhões que custará a venda dos 2% terá de ser efetuada no momento de fecho da operação.
Santoro vende ou não?
Com a desblindagem feita e reduzida a exposição a Angola, o banco fica pronto a ser tomado, em mais de 50%, pelo espanhol CaixaBank, que já domina 45% do capital. A OPA aguarda o registo na CMVM. “Todas as autorizações de que o CaixaBank necessitava estão preenchidas”, adiantou Fernando Ulrich. “Entramos agora em modo de execução”.
Restam, contudo, duas incógnitas: se os pequenos acionistas vão ou não recorrer judicialmente da decisão de venda do BFA; e se a Santoro, de Isabel dos Santos, segunda maior acionista do BPI, vai ou não vender a sua participação ao catalão CaixaBank e sair da estrutura acionista do banco.
Também o CaixaBank terá de reafirmar se mantém o €1,113 por ação oferecido na OPA em curso, ou se revê o preço em alta.