
Jason Lee / Reuters
Morrem principalmente porque fazem produtos que ninguém quer? Ou morrem sobretudo porque os seus modelos de negócio não são viáveis? Muitas também morrem por falta de financiamento, é certo. Mas, cada empresa tem a sua própria experiência e, às vezes, o discurso do falhanço abrange muitas nuances, e não deixa clara a razão que leva ao fim.
Dentro da comunidade empreendedora norte-americana, muito concentrada em Silicon Valley, na Califórnia, é agora cada vez mais habitual o empreendedor vir explicar o que falhou no seu negócio, havendo já plataformas e blogs direcionados para tal.
Se até há bem pouco tempo, os fundadores / empreendedores sentiam toda a pressão do mundo para manterem a fachada de sucesso, mesmo quando tudo ruía nos bastidores, agora há uma espécie de culto a rodear o fracasso, contrariando a narrativa do empresário como herói. Algo para que muito contribuiu – de acordo com a revista Fortune – o suicídio de Jody Sherman, CEO de uma start up (Ecomom).
Tornou-se agora comum, e importante, que se viesse a público admitir a falha, para que pudessem ser analisados os motivos. O que antes poderia ser visto como uma prova de derrota, é agora encarado como um ato de coragem, e a partilha das más experiências pode ajudar outros a sobreviver. É a velha máxima de aprender com os erros… dos outros.
Fazer um produto que ninguém quer
E é a partir destes testemunhos de falhanço, que estão a ser criadas bases de dados, e a servir de estudo para algumas equipas perceberem as principais razões que levam à morte das start up. A Fortune cita um estudo da CB Insights que analisou 101 “declarações de morte”, nas quais fundadores explicam as razões que acreditam ter provocado a morte das suas start up. E o motivo número 1, indicado por 42% dos depoimentos, era o facto de estarem a fazer produtos que o mercado não precisava.
O que contraria uma velha máxima do empreendedorismo, que ficou famosa pela voz do falecido Steve Jobs, co-fundador da Apple: “Muitas vezes, as pessoas não sabem o que querem até que alguém lhes mostre”. E, na verdade, quem é que se lembraria de que precisavamos de uma Uber?
De resto, 29% citaram a falta de capital e 23% o não terem a equipa certa.
O negócio não é viável
Já outra publicação – a Quartz – debruçou-se sobre 193 posts em que os fundadores contaram as suas experiências “dolorosas” de morte. E, aqui, a principal razão apontada era o facto de o modelo de negócio não ser viável (51%). Logo a seguir, vem o facto de terem ficado sem dinheiro (46%).
Depois, muitas variáveis surgem em função do tipo de start up, das condições de obtenção de financiamento e da quantidade de dinheiro angariado.
Por exemplo, as start up ligadas à industria da moda ficam mais vulneráveis à falta de dinheiro ou à incapacidade de garantirem financiamento necessário. As empresas de media têm de lutar mais para conquistar um lugar ao sol e arquitetar um modelo de negócio viável. Projetos de software chegam à conclusão que o seu erro foi concentrarem-se demasiado nos aspetos técnicos e ignorar o que os clientes queriam realmente.
Financiamento vs capitais próprios
Um dado intrigante foi perceber que as empresas financiadas eram as que ficavam mais depressa sem dinheiro, quando comparadas com aquelas que nasciam apenas à custa dos capitais próprios dos seus fundadores. Foi o que aconteceu com 28% das 147 start up financiadas.
Já as que estavam apenas alavancadas com capitais próprios, apontaram a falta de dinheiro somente em 10º lugar. Apenas quatro das 40 empresas não financiadas indicaram a falta de financiamento como a razão que levou à morte das suas empresas.
Neste caso, a causa mais citada do fracasso volta a ser o modelo de negócio (25%), o que, por sua vez, pode explicar por que razão estas empresas não conseguiam financiamento. A verdade, é que um quinto destas empresas não eram financiadas, porque indicavam ter sido impossível obter financiamento externo aos seus fundadores. Foram estas empresas também as que mais apontaram a “inexperiência” como uma das principais razões para o seu fracasso, quando comparadas com aquelas que eram financiadas (15% vs 3%).
As start up (ainda) são masculinas
Uma curiosidade: deste grupo de depoimentos analisados, apenas 18 das start up teve pelo menos um fundador do sexo feminino. Fica a sugestão de que este mundo ainda é predominantemente masculino.
Mas uma coisa é certa: estas mensagens são úteis para que outros evitem cometer os mesmos erros e façam uma gestão muito mais consciente dos seus projetos. Ficou claro que quando se está numa empresa que caminha para a morte não se é capaz de identificar o que está a correr mal. Muitos dos erros são descobertos mais tarde, depois do facto consumado.