O setor têxtil português está a viver um dos seus melhores momentos. O valor das exportações em 2015 atingiu os €4,8 mil milhões e tudo aponta para que se chegue aos cinco mil milhões no final deste ano. “Se assim for, antecipar-se-á em 4 anos os objetivos estratégicos pensados para 2020. Será o nosso momento platina”, revelou à VISÃO Paulo Vaz, diretor geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP).
A confirmarem-se, estes valores representarão um “recorde absoluto”, pois só foram atingidos em 2001, mas “com o dobro das empresas e dos trabalhadores”. Face a perspetivas de crescimento superiores a 4% ao ano, o otimismo reina entre os empresários do setor.
Desde 2011 que o setor ultrapassou a fasquia dos €4 mil milhões nas exportações. Mas é 2013 que marca o ano da descolagem para um crescimento sustentado, com o volume de negócios a ultrapassar os €6 mil milhões. Em 2015 chegou aos €6,8 mil milhões, com perto de 80% da sua produção orientada para as exportações.
A balança de pagamento (diferença entre exportações e importações) continua a ser das mais líquidas, com um saldo positivo de €1,1 mil milhões. A confeção de vestuário representa 60% da produção total do setor, seguida do têxtil-lar com 15%.
Espanha
Espanha é o mercado que assinala maior crescimento, com um acréscimo de €148 milhões faturados até Novembro passado, atingindo €1,5 mil milhões. Portugal voltou a ganhar terreno relativamente à concorrência do Extremo Oriente, sobretudo devido à proximidade dos pontos de produção. Numa altura em que as grandes marcas não querem empatar dinheiro em grandes quantidades, nem armazenar stocks, qualquer ponto de Portugal está a menos de 24 horas de viagem. “Preferem pagar um pouco mais, mas ter mais capacidade de gestão sobre a produção”, explicou Paulo Vaz, realçando o regresso em força da espanhola Inditex, detentora de marcas como a Zara, Maximo Dutti, Stradivarius ou bershka.
Estados Unidos
A recetividade que o setor está a ter nos Estados Unidos em muito tem contribuído para o entusiasmo que se vive. 2015 deverá registar crescimentos perto dos 30% e as perspetivas futuras são claramente positivas. De 2014 para 2015, passou-se de €200 milhões para perto de €260 milhões, havendo ainda “grande potencial de crescimento”.
Os acertos cambiais, que desvalorizaram o euro face ao dólar, e a possibilidade de se fechar ainda este ano o acordo de livro comércio entre os EUA e a União Europeia, têm estimulado o regresso de antigos clientes. “É um mercado muito interessante de 300 milhões de habitantes, onde estão as grandes marcas com pensamento estratégico”, avança o diretor geral da ATP.
Há aqui uma antecipação do que pode vir a ser um ganho de valor no momento em que o acordo entrar em vigor (2019/2020?) e libertar os 20 a 25% de taxas cobradas, tornando os têxteis portugueses mais competitivos.
Mudança de perfil
Depois da grande crise em 2008, o setor demorou cerca de 5 anos a recuperar e a alterar o perfil da sua estrutura produtiva. Se então ficou muito exposto à concorrência com base no preço, conseguiu mudar para uma produção assente na diferenciação, no acréscimo de valor pela qualidade, diferenciação do produto e inovação tecnológica. As empresas que resistiram estão mais capacitadas e mais sólidas.
Mesmo que a subcontratação (produção para outras marcas) continue a ser um pilar importante do setor, a verdade é que ela já não assenta apenas no preço baixo. Os valores da produção subiram, mas incorporou-se valor, serviços e design. Uma oferta mais integrada e completa.
Aumento de postos de trabalho
As boas notícias chegam também por via dos postos de trabalho criados. De 2013 para 2014, o têxtil criou perto de cinco mil postos de trabalho e voltou a aumentar o emprego em 2015. “Depois dos ganhos de produtividade, estamos a criar emprego”, reafirma Paulo Vaz.
Não se chegará aos níveis existentes na década de 90, quando começaram as grandes perdas de postos de trabalho. Mas houve um reajustamento, e também uma mudança de perfil do trabalhador necessário. Hoje, o operário têxtil tem de ser quase um técnico informático, face à incorporação tecnológica verificada. De resto, emprega-se no marketing e nas vendas.
Mas faltam costureiras ou pessoas para a confeção. A ponto de alguns terem de deslocalizar alguma produção para países como a Turquia ou outros no Extremo Oriente.