A participação portuguesa é garantida pelo Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN) do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, que vai desenvolver um sistema de diagnóstico do meio onde se dá a reação de fusão nuclear.
O contrato para esse trabalho, a realizar durante quatro anos, é assinado esta terça-feira e tem o valor de 8,5 milhões de euros. O IPFN lidera um consórcio internacional, que integra dois institutos congéneres de Espanha e Itália.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do IPFN, Bruno Soares Gonçalves, referiu que o reator experimental que está a ser construído no sul de França, com prazo de conclusão em 2021, pretende “provar a viabilidade científica e tecnológica da energia baseada em fusão nuclear”.
Na prática, “substituir a fonte de calor que existe nos reatores de decisão nuclear ou numa central termoelétrica por uma nova fonte de calor”.
A fusão nuclear, junção de dois ou mais núcleos atómicos, ocorre no interior das estrelas. O que os cientistas fazem é “simular na Terra esse mesmo processo para produzir energia elétrica”, avançou Bruno Soares Gonçalves.
O consórcio liderado pelo Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear vai “monitorizar a distância a que está o plasma das paredes do reator”, adiantou.
O plasma é um dos estados físicos da matéria, similar ao gás, muito quente, “com temperatura muito semelhante à das estrelas, mas menos denso”. Se o plasma tocar nas paredes do reator, danifica-o.
“Nós temos que garantir que controlamos esse plasma no interior” do reator, assinalou o investigador.
Sem tocar no plasma, a equipa do IPFN vai controlá-lo usando a técnica de micro-ondas, ondas eletromagnéticas.
O Reator Experimental Termonuclear Internacional (International Thermonuclear Experimental Reactor, ITER) é um projeto que envolve União Europeia, Estados Unidos, China, Japão, Coreia do Sul, Índia e Rússia.
Terminada a sua construção, o equipamento será testado durante dez a 15 anos, antes de poder ser fabricado o primeiro protótipo comercial de reator para produção de energia elétrica, esclareceu o presidente do IPFN.
Bruno Soares Gonçalves vincou que, ao contrário da produção de energia por fissão nuclear, a gerada por fusão nuclear “é mais segura, limpa e abundante”.
Na fissão nuclear, a energia elétrica é produzida “com bastante radioatividade”, à custa da quebra de átomos de grandes dimensões.
“Uma reação de fissão nuclear pode tornar-se descontrolada e levar a acidentes como o de Chernobyl [Ucrânia] e o de Fukushima [Japão]”, sublinhou o presidente do IPFN.
Na fusão nuclear, o “combustível” usado na produção de energia são isótopos de hidrogénio, abundantes na água do mar, que se juntam, provocando uma reação.
“Quando algo corre mal, a reação extingue-se”, apontou Bruno Soares Gonçalves, realçando que a fusão nuclear “é um método seguro, que produz muito mais energia, não usa materiais radioativos e não produz resíduos que se tenham que armazenar por milhões de anos”.
Trata-se, de acordo com o especialista, de “uma fonte energética para centenas de milhares de anos”.