São obras-fantasma porque nunca saíram do papel, apesar de terem custado centenas de milhões de euros aos contribuintes. Só em estudos e projetos, realizados, em alguns casos, ao longo de décadas, foram gastos cerca de 150 milhões de euros. O comboio de alta velocidade, vulgo TGV, representa a maior fatia: 90 milhões de euros investidos nos preparativos para o desenvolvimento da rede, valor que cresce quase 30 milhões de euros se somarmos os custos operacionais e custos com pessoal. No caso do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL), previsto, depois de muita polémica, para a Margem Sul, terão sido desembolsados cerca de 60 milhões de euros para estudar a melhor localização. Mais de metade desse montante foi canalizado para a Ota, a primeira escolha de sucessivos governos que, em 2008, viria a ser abandonada a favor de Alcochete.
Consideradas estratégicas, estas e outras grandes obras públicas e/ou privadas – como as novas autoestradas, as plataformas logísticas, o alargamento do terminal de contentores de Alcântara, as barragens ou a requalificação das escolas – acabaram classificadas como sendo de “rentabilidade duvidosa” e, de imediato, suspensas ou adiadas pelo ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, com o aval do chefe do Governo, Pedro Passos Coelho. Para trás ficaram anos de acesos debates sobre os custos e benefícios deste tipo de projetos. Vindos de todos os quadrantes, os manifestos postos a circular, excessivamente politizados, serviam de pretexto para esgrimir argumentos estéreis e inconclusivos. Contra o traçado do TGV, contra o efeito reprodutor do investimento público, as parcerias público-privadas, o crédito fácil … De tal maneira que ser contra ou a favor das grandes obras tornou-se quase como ser do Sporting ou do Benfica. Com a particularidade de que muitos portugueses preferem torcer pelo Porto…
Acabada a festa e desfeitas as ilusões, resta fazer as contas aos custos e desperdícios. A VISÃO pediu aos organismos públicos diretamente envolvidos nas grandes obras que facultassem a relação de três tipos de gastos: investimento em estudos e projetos, custos operacionais e despesa com pessoal. Como esperado, a alta velocidade e o novo aeroporto são responsáveis pelos grandes números. Durante anos, o desenvolvimento desses projetos esteve sob a responsabilidade de empresas públicas propositadamente criadas para esse efeito: a RAVE e a NAER, ambas em fase de extinção. Já os custos das novas rodovias, construídas por privados sob a alçada das Estradas de Portugal – que não prestou informação à VISÃO -, são mais difíceis de calcular, na medida em que o investimento está a cargo dos privados.