Não receio, tenho a certeza. Alertar os clientes para a possibilidade de perdas, não vende. Vende menos, depois de uma subida (vertiginosa) como a que ocorreu nos mercados de acções desde 9 de Março de 2009. O S&P 500, o índice que agrega as acções das 500 principais empresas norte-americanas, subiu em menos de 2 anos 100%. Isso mesmo, duplicou o seu valor. Este é, para mais de 95% dos gestores de conta bancários, o argumento de ouro para convencer os clientes a efectuarem uma aplicação “daquele dinheiro que está parado”, fazendo o investidor cometer o erro mais comum: comprar em alta e vender em baixa. É muito provável que vá comprar os mesmos títulos que a Goldman Sachs, o JP Morgan, a Morgan Stanley ou o UBS estão neste momento a vender.A Banca está formatada para insuflar bolhas, bolhas especulativas como aquela que deverá “aliviar” em breve. Mais agora, que se provou que o conceito de “risco e rentabilidade” para o sector financeiro apresenta características especiais. Para uma qualquer empresa ou investidor, quanto maior é o risco incorrido, maiores serão os ganhos, mas também as perdas potenciais. Aos Bancos este princípio não se aplica. Os Bancos não podem falir, tal como qualquer outra empresa mal gerida. Assim, existe um estímulo adicional para adoptar políticas de risco agressivo que maximizem os ganhos, porque se algo “correr mal”, existirá uma mão bem visível que virá em seu auxílio, como se viu muito por todo o globo em 2008 e 2009. Os investidores, os clientes, esses estão por sua “conta e risco”.Mas, perguntará, em que se alicerça a minha convicção de que no horizonte próximo, os mercados de acções vão voltar a dobrar o “cabo das tormentas”?Independentemente da discussão sobre qual a tendência de longo prazo em que presentemente nos encontramos, se num novo “Bull Market” (de subida dos preços das acções) ou num “Bear Market” prolongado (de queda dos preços das acções), existem diversos factores de risco acrescido nos mercados de acções no presente. Independentemente da tendência de longo prazo em que os mercados se encontram, não existe nenhum activo cotado nos mercados financeiros que se valorize ou desvalorize de forma linear. Esta consideração remete-me para o primeiro factor: o risco de uma correcção técnica. Os mercados de acções, de acordo com os principais parâmetros de análise técnica, encontram-se em território dito “overbought”, entenda-se “caros”, diria mesmo, “muito caros”. Ao longo dos últimos 2 anos, os mercados valorizaram-se de forma quase ininterrupta, sendo o período de Maio e Junho de 2010, a excepção grosseira num mercado que “sobe todos os dias, todas as semanas, todos os meses, todos os anos, sempre!”. Nada dura para sempre. Este padrão de comportamento do mercado, tipificado, faz emergir um sentimento perigoso entre os investidores: a ganância. Buffett costumava dizer que devemos ser medrosos quando a ganância se instala e, pelo contrário, devemos ser gananciosos quando o pânico toma conta das operações. Acredito que também Buffett esteja a ser ganancioso neste momento.
As medidas de estímulo astronómicas disponibilizadas pelos Estados não chegaram ainda à economia real, tendo falhado no objectivo (?) de criar emprego. Terão sido integralmente canalizadas para a Banca, que apenas 2 anos após ter sido salva, sob o argumento do possível colapso do sistema financeiro global, apresenta de novo resultados robustos?? Presentemente, existem em todo o mundo mais de 200 milhões de pessoas desempregadas. Nos Estados Unidos, a taxa de desemprego maquilhada pelo Governo americano é de 9%. Em Portugal, a percentagem de população activa sem trabalho era em Dezembro de quase 11% e na vizinha Espanha mais de 20%, isto é, 1 em cada 5 espanhóis não tem trabalho. Num contexto em que o consumo privado representa cerca de 2 terços do produto interno bruto, qual será o input para o crescimento económico sustentado desta população inactiva?Este input poderá ser “servido” sob a forma de “convulsão social”, como já assistimos na Grécia, Irlanda, França, Egipto, Argélia, quando a população já fragilizada se vir incapaz de fazer face à subida incontornável dos preços das matérias-primas e bens de primeira necessidade.A probabilidade da verificação de uma dupla recessão nas economias desenvolvidas, embora seja hoje menor do que a perspectivada à um ano atrás, ela não poderá ser totalmente afastada. O sobre-endividamento insustentável a longo prazo das famílias, das empresas e agora, dos Estados, o deplorável estado das finanças públicas de vários países (EUA em particular), a debilidade estrutural do sector imobiliário residencial e comercial, o abrandamento evidente da economia chinesa, a perspectiva da subida das taxas de juro e a quebra das margens de lucro das empresas (que se encontram em máximos de 57 anos!), são apenas alguns dos factores que nos fazem encarar com elevado cepticismo a evolução dos mercados accionistas no médio prazo. As carteiras de investimento dos nossos clientes na Altavisa não possuem neste momento posições em acções dos mercados ditos desenvolvidos, estando protegidas para a eventualidade de um desenlace negativo. Algumas das nossas carteiras de Clientes estão investidas no sentido de poderem beneficiar com a mais que previsível quebra dos mercados.E a sua carteira de investimentos? Está preparada para os tempos difíceis que se avizinham? Vai mesmo permitir uma desvalorização de 20% da sua carteira?
Está preparado para perder 20%?
Se está investido em acções, fundos de acções indexados aos mercados europeus, americanos, asiáticos, ou qualquer outro investimento que tenha a subida do mercado accionista como activo subjacente, prepare-se para perder, até 20% ao longo dos próximos meses. Receio que o seu gestor de conta (private banker para os mais endinheirados) não o tenha ainda prevenido para esta eventualidade (inevitabilidade na minha perspectiva).