Portugal não tem petróleo nem gás mas tem lítio, no subsolo. Um pouco por todo o lado, cresce a procura do mais leve metal existente na Terra, cuja densidade é apenas metade da água. É com lítio que se fabricam as baterias dos computadores portáteis, telemóveis, leitores de mp3, câmaras digitais, relógios e, dentro de algum tempo, dos carros eléctricos. A Nissan, a primeira marca a apostar na construção em massa dos novos veículos, vai instalar uma fábrica de baterias de lítio em território nacional. Mas, apesar de sermos os maiores produtores europeus desse metal, a construtora terá de adquirir a matéria-prima nos mercados internacionais.
O lítio que por cá se extrai, a partir de certos tipos de rochas, vem agregado a outros metais, existindo dúvidas sobre a viabilidade financeira da sua separação e posterior utilização para o fabrico de baterias. Mas há estudos nesse sentido.
A Felmica, maior produtor nacional, com sede em Mangualde, começou a estudar, em conjunto com uma empresa alemã, a exploração de lítio “num estado mais puro”, com a finalidade de servir de matéria-prima para o fabrico de baterias. “Só haverá plano financeiro depois de sabermos o que podemos colher”, disse à VISÃO o administrador José Manuel Henriques.
Por enquanto, a totalidade da produção da Felmica destina-se à indústria cerâmica nacional, que utiliza o lítio no fabrico de mosaicos, azulejos, louças sanitárias e louças de cozinha. Em 2008, começou, pela primeira vez, a produzir concentrados de lítio.
Os novos usos do lítio estão a fazer com que as empresas comecem a olhar para esta matéria-prima “de forma mais sustentada”, diz o subdirector-geral da Direcção Geral de Geologia e Energia (DGGE), Carlos Caxaria. Mas, durante mais algum tempo, os destinatários da produção serão os fabricantes de vidro e cerâmica.
“Para o fabrico de baterias será necessário lítio na forma de carbonato, que não é o nosso tipo de produção”, explica aquele técnico, acrescentando que essa transformação “poderá ser demasiado dispendiosa e grande consumidora de energia”. “Tenho dúvidas quanto à sua futura utilização nas baterias de automóveis”, conclui.
Procura cresce
A produção de lítio, concentrada nas regiões de Guarda, Viseu, Vila Real e Viana do Castelo, tem vindo a aumentar, assim como os pedidos de prospecção desse metal. Os dados da DGGE indicam que, entre 2005 e 2007, registou-se uma subida de 33% na exploração de pegmatitos (rochas) com lítio, para um total de 34 755 toneladas, avaliadas em cerca de meio milhão de euros. A dimensão das reservas não é, por enquanto, conhecida.
Numa análise recente do U.S. Geological Survey – um instituto público norte-americano – Portugal é apontado como o maior produtor de lítio na Europa, numa tabela liderada pelo Chile e pela Austrália. Mas, a breve prazo, essa lista sofrerá alterações. A descoberta das maiores reservas do mundo na Bolívia, estimadas em 5,4 milhões de toneladas (metade do total mundial) ditará a entrada de um novo gigante neste mercado, em forte expansão por causa da procura de lítio para baterias – que lideram já as aplicações daquele metal, consumindo 25% da produção mundial. Mas nem tudo são boas notícias. Os especialistas frisam que o lítio é um metal raro e que, com a esperada massificação das viaturas eléctricas, será necessário procurar alternativas. As expectativas de fortuna fácil, por parte dos produtores, podem, afinal, não se concretizar.