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Através do pequeno vidro que abre uma brecha sobre o anfiteatro, consegue-se vislumbrar uma turma madura, atenta e de caneta solta para os apontamentos. Sente-se ainda a distância que um primeiro dia impõe entre os alunos. O professor, José Neves Adelino, uma sumidade em Contabilidade Financeira, vai entusiasmando a assistência com a sua prelecção. Avisa: “Meus amigos, se há quem não esteja a entender a matéria, diga. Depois, não a vai ler em casa…”
Os alunos, com idades entre 29 e 50 anos, são quase todos licenciados em áreas tão distintas como Comunicação Social, Engenharia Electrotécnica ou Gestão de Empresas. O que têm em comum? Estarem desempregados.
O Nova Forum, instituto de formação de executivos da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, organizou este Curso Geral de Gestão destinado apenas a quem se encontra sem trabalho há mais de seis meses e está interessado em reposicionar a sua carreira. A ideia partiu de conversas entre o administrador do Nova Forum e o director da Faculdade de Economia, e da necessidade sentida pela faculdade, enquanto escola de referência na área de Gestão, de contribuir para a saída da crise. “O JumpStart é inédito, a nível europeu”, sublinha Rita Afonso, gestora de Comunicação. Inédito também porque não cobra um cêntimo aos alunos. Aliás, ainda oferece, diariamente, toda a documentação, dois bem recheados coffee breaks e o almoço. Um curso semelhante, no Nova Forum, custa 7 500 euros.
Lançar uma empresa
É hora do almoço, neste primeiro dia de aulas. A refeição toma-se numa sala toda de madeira, ao jeito do palacete onde se situa. Uma das mesas está ocupada apenas por mulheres, ainda que estas se encontrem em minoria no curso. Cátia Pereira, 37 anos, é uma delas. Depois de trabalhar 15 anos na área de marketing, 11 dos quais na mesma multinacional, acabou por sair, devido a uma reestruturação efectuada em Dezembro. O JumpStart permite-lhe, agora, reciclar as aprendizagens antigas. “Também gostava de identificar as minhas competências e, claro, melhorar o networking.”
Uma das nuances que distingue este curso (concentrado num mês) dos que se ministram normalmente na Nova (uma semana em cada mês, ao longo de seis meses) é o módulo dedicado ao reposicionamento da carreira: profissionais da empresa de executive search Egon Zehnder vão ensinar a elaborar um currículo, a ter a postura certa nas entrevistas e a melhorar funcionalidades importantes para quem anda à procura de emprego.
No final do curso, os alunos terão de apresentar um plano de negócio para lançar uma empresa. Alguns poderão obter um financiamento simbólico da Inovcapital, no valor de 2 500 euros. “Com este trabalho, incentivamos o empreendedorismo”, realça Rita Afonso.
Valter Borges ainda nem está no limite mínimo de idade exigido para frequentar o curso, 30 anos. Aos 29 anos, “quase 30”, descobriu o JumpStart num grupo de apoio profissional da Faculdade de Economia da Nova, onde estudou até 2003. Trabalhava há quatro anos na Chipidea como controller financeiro, mas um despedimento colectivo pôs na rua cerca de 40 pessoas, entre elas Valter. Agora vive do subsídio de desemprego e procura trabalho. “Voltei a ter contacto com as áreas em que me formei. Sinto-me mais activo e posso encontrar uma porta de entrada numa nova vida”, resume o jovem, elencando as vantagens de ser um dos 39 eleitos.
Expectativas lá no alto
Isabel da Palma, 37 anos, formada em Gestão de Empresas pelo ISCTE, está deslumbrada com “esta iniciativa excelente”. A sua situação é complicada: trabalhou na Suécia, na Ericsson, durante oito anos. Depois do divórcio, e com um filho pequeno, regressou a Portugal, desenraizada. Não tem direito a subsídio, nem cá, nem lá, porque saiu pelo seu pé daquela multinacional de telecomunicações. Desde o ano passado, está à procura de algo para fazer. Tem constatado que “o empregador procura o máximo de experiência e o mínimo de idade”.
Já frequentou, durante cerca de um mês, um curso da Associação Portuguesa de Mulheres Empresárias para desempregadas com ideias para um negócio. Apesar de pertencer ao JumpStart há apenas umas horas, consegue perceber as diferenças de conceito. A grande mais-valia, neste caso, é a homogeneidade do grupo, enriquecido nas suas diferenças. “As minhas expectativas são altíssimas, pela universidade que é e pelos professores que dão as aulas.”
A única prestação a “pagar” será, durante dois anos, e de dois em dois meses, responder a um questionário da universidade, dando conta da evolução do seu caso pessoal. Para tentar perceber de que forma o investimento na (boa) educação dá frutos. E saber quais destes 39 se aguentam nas árvores ou caem ao chão.