Se não chegas ao ouro, vai com tudo para o bronze. Foi com esse espírito que Jorge Fonseca enfrentou e derrotou o canadiano Shady Elnahas no combate decisivo para o terceiro lugar no pódium – o mesmo a que subiram, no passado, Nuno Delgado e Telma Monteiro.
O bicampeão mundial foi paciente e cauteloso no último combate, frente a um adversário muito mais alto, mas que foi o suficiente para lhe garantir um ponto a meio minuto do fim. Esses últimos 33 segundos foram de grande tensão, com os nervos à flor da pele, levando mesmo até à expulsão do treinador Pedro Soares.
Para ganhar a 25.ª medalha de Portugal na história dos Jogos Olímpicos Jorge Fonseca teve de aguardar pela primeira ronda de combates, de que estava isento, para saber quem iria defrontar nos oitavos de final. Coube-lhe o belga e campeão europeu Toma Kikiforov, que derrotou de forma rápida, em apenas 17 segundos
Mas se o primeiro combate quase nem deu para transpirar, o segundo, frente ao russo Niiaz Iliasov, obrigou a um esforço suplementar. Os dois judocas tinham contas a ajustar um com o outro: Fonseca derrotou Iliasov na final do Mundial de 2019, enquanto o russo derrotou o português, em abril, nos Europeus disputados em Lisboa (onde nenhum dos dois acabou por subir ao pódium). Foram quase oito minutos de combate, que só terminaram ao 3.54 do ponto de ouro, quando Fonseca conseguiu projetar o adversário, averbando um precioso waza-ari.
Depois de uma pausa de cerca de quatro horas, Jorge Fonseca voltou ao tatami para enfrentar, na meia-final, o sul-coreano Guam Cho, campeão do mundo em 2018. Foi um combate tenso, com poucos ataques, em que o português revelou, desde cedo, problemas na sua mão esquerda, o que lhe dificultava a pega, tão fundamental nos seus movimentos. Quando se esperava que o combate fosse para o ponto de ouro, o coreano conseguiu projetá-lo, ganhando uma pequenas mas decisiva vantagem a 18 segundos do fim.
Afastado da luta pelo ouro, Jorge Fonseca saiu do tapete visivelmente desiludido, obrigando até o seu treinador, Pedro Soares (judoca olímpico em 1996 e 2000) a dar-lhe uns gritos para o levar a reagir e a concentrar-se na luta pela medalha que ainda estava em jogo. Pelos vistos, os gritos fizeram-lhe bem.
Esta foi a terceira medalha do judo português em Jogos Olímpicos, curiosamente todas de bronze. Jorge Fonseca junta o seu nome, nessa galeria, aos de Nuno Delgado (Sydney 2000) e de Telma Monteiro (Rio 2016).
Com esta medalha, o Comité Olímpico de Portugal atinge metade do seu objetivo de alcançar dois lugares de pódium nestes Jogos de Tóquio 2020.