A primeira vez que entrou num estádio olímpico, em Atenas 2004, com apenas 20 anos, Nelson Évora ficou petrificado ao olhar para as bancadas completamente lotadas, apesar de se tratar de uma sessão de qualificação matinal. “Ao princípio, nem percebia que estava mesmo ali, naquele ambiente. Parecia que ainda continuava a assistir ao espetáculo pela televisão, como fazia em criança”, recorda agora, quando chega a Pequim, aos 37 anos, como um dos veteranos da comitiva portuguesa e o único que, quando entrar em competição, será referenciado nos ecrãs do estádio como já tendo ganho uma medalha de ouro olímpica – o sonho máximo de qualquer um dos mais de 11 mil atletas presentes na capital nipónica.
Havia uma razão para, nessa sua estreia olímpica, Nelson estranhar o ambiente: “Durante anos, apesar de alcançar marcas de excelência, não podia participar em competições internacionais. Só depois de fazer 18 anos e adquirir a nacionalidade portuguesa é que passei a ir aos grandes torneios – só que comecei logo com os Jogos Olímpicos.” A estreia, até porque vinha de uma fratura de esforço, não correu bem, e nem sequer conseguiu apurar-se para a final do triplo salto. “Sabia que não estava nas melhores condições, mas disse a todos para me levarem a Atenas para poder experimentar aquele ambiente. Prometi-lhes que nos Jogos seguintes não se iriam arrepender dessa decisão”, lembra.
“Aprendi com a competição uma lição para a vida: nós é que temos de acreditar em nós próprios. Tudo o resto não interessa”