Os profissionais de futebol vivem dos resultados. Quanto mais ambiciosos são os objetivos das equipas, mais exigente será, no final, o escrutínio de adeptos, comentadores e dirigentes. Às vezes, é ingrato. O futebol é tudo menos uma ciência e exata e, frequentemente, mesmo quando tudo foi bem feito, estudado e planeado, a diferença entre a glória e a desgraça é traçada pela bola que bate no poste ou o ressalto que ilude o guarda-redes. No caso de Roberto Martinez, líder de uma equipa que assumiu estar neste Europeu para disputar o troféu, não será fácil aceitar uma saída de cena nos quartos-de-final. Mesmo quando o adversário é a França.
É verdade que muito do que acontecer amanhã no Volksparkstadion, em Hamburgo, vai depender sobretudo do que os jogadores, de uma e outra equipa, fizerem em campo. Martinez, aliás, fez questão do lembrar ontem, na conferência de imprensa de antevisão o jogo dos quartos-de-final, quando disse “amanhã, são os jogadores”. Tem toda a razão, mas quem os escolhe e lhes determina missões é o treinador, que tem obrigação de saber quais estão mais preparados e em que medida devem dar o contributo à equipa. Mas também é sua missão – fundamental, diria – ter a sagacidade de perceber quando é altura de trocar, de dar oportunidade a outros, meter sangue novo quando as mesmas peças não fazem o conjunto funcionar o coletivo. E fazê-lo sem olhar a estatutos, recordes, idades ou nomes. Até porque, se assim não fizer, o risco de ser o seu o nome mais proferido no final da partida é enorme. E talvez não seja para lhe elogiar o trabalho.
Pode até acontecer que, fazendo tudo como tem feito até aqui, Roberto Martinez tenha a felicidade de ver a equipa vencer e passar às meias-finais. É perfeitamente possível que o que impediu Portugal de mostrar até agora a qualidade de um verdadeiro candidato ao título tenha sido, como o selecionador vem dizendo, o facto de ter defrontado equipas muitos defensivas e até o estado do relvado, e que, esta noite, perante uma seleção contra quem poderá jogar de igual para igual, a equipa das quinas se liberte para uma exibição categórica. Cá estaremos para lhe dar os créditos. Mas se a Seleção Nacional voltar a enredar-se nos mesmos dilemas de até aqui, com jogadores em sub-rendimento a serem teimosamente mantidos em campo, com os mais dinâmicos a serem os primeiros a ser substituídos e tanto talento obrigado a assistir no banco, Roberto correrá o risco de ficar na história como alguém que, não se limitou a organizar a “tourné de despedida de Ronaldo”, como lhe chamou Jonathan Wilson, jornalista do The Guardian, mas também a sua própria. Pelo menos, enquanto selecionador de Portugal.
Há, pois, que acreditar que o treinador espanhol sabe o que está a fazer. Há, também, que acreditar que os jogadores portugueses tudo farão para dar o melhor de si em prole da equipa e que estão a chegar os momentos que lhes permitirão escrever uma nova página de glória no futebol português e, por consequência, também nas suas carreiras.
Eu (ainda) acredito!