Não há muitos jogadores na história do futebol que possam gabar-se de um currículo destes. Marcar 324 golos em 631 partidas de futebol só está ao alcance de um fora de série. E é exatamente de um extraordinário ponta-de-lança que se fala, quando nos lembramos de Manuel Fernandes. Obviamente, os adeptos do Sporting lembrá-lo-ão com especial saudade e sentido de perda, mas o eterno capitão dos leões tem, pelo excecional jogador que foi e pelo exemplo de integridade que deu enquanto homem do futebol (para além de jogador, foi treinador, dirigente e comentador televisivo), um lugar especial na memória dos verdadeiros amantes do futebol. Manuel Fernandes partiu na quinta-feira, 27. Tinha 73 anos e debatia-se, há anos, com um cancro.
Nascido em 1951, em Sarilhos Pequenos, na Moita, Manuel Fernandes teve 30 internacionalizações e sete golos marcados por Portugal mas foi pelo Sporting que o antigo avançado se tornou num dos melhores jogadores de sempre do futebol português. Nado e criado numa família de ferrenhos adeptos sportinguistas, o pequeno Manel cresceu a admirar os Leões e a sonhar com vestir a camisola verde-e-branca. Mas foi no clube da terra natal, o Sarilhense, que começou a carreira, aos 16 anos. Jogava, na altura, a médio, longe das balizas que o haveriam de tornar distinto dos outros. Foi na equipa do extingo Grupo Desportivo da CUF que Manuel Fernandes se encontrou com o golo. Entre 1969 e 1975 marcou 40 em 138 jogos. Primeiro na equipa das reservas e, depois, na equipa principal que fez o brilharete de conquistar um 4º lugar no campeonato. Foi com um golo seu que a CUF venceu o histórico FC Porto, dessa forma, garantiu uma participação inédita e histórica na Taça UEFA. Foi também graças às suas exibições que começaram a chover convites para dar o salto. Vieram das Antas e do Restelo, mas o Manel só disse sim quando chegou a chamada do seu Sporting. Foi em 1975 que começou a aventura de 12 anos de Leão ao peito, período durante o qual alinhou em 433 jogos e marcou 257 golos, o que faz dele o segundo melhor marcador da história do clube. Melhor do que o eterno capitão só inigualável Fernando Peyroteu, um dos míticos “cinco violinos”, a linha avançada do Sporting que marcou o futebol português na segunda metade da década de 1960. A passagem posterior no Vitória de Setúbal, entre 1987 e 1989, fizeram de Manuel Fernandes o jogador com mais jogos disputados (486) no principal escalão do futebol português. Uma realidade apenas possível, porque os anos em que brilhou nos relvados pouco tinham ainda a ver com a indústria milionária em que o futebol viria a transformar-se. Se assim não tivesse sido, Manuel Fernandes teria, seguramente, realizado uma carreira no futebol europeu.
Arrumadas as botas, seguiu-se uma carreira de treinador com passagens por vários clubes, em Portugal e Angola. Nestas funções, escaparam-lhe os títulos, tendo conseguido apenas vencer a Supertaça de 2000/2001 com o seu Sporting. O mesmo clube que, enquanto jogador tinha ajudado a vencer 2 campeonatos nacionais, 2 Taças de Portugal e uma Supertaça e pelo qual terá vivido uma das tardes de glória. Aquela de 14 de dezembro de 1986 em que marcou 4 dos 7 golos com que o Sporting bateu o eterno rival Benfica. “Foi uma sensação inesquecível”, reconheceu anos mais tarde, salientando, porém que “mais do que qualquer golo ou qualquer jogo, o maior momento de glória da minha vida foi aquele em que vesti, pela primeira vez, a camisola do Sporting”.
É este amor ao clube de sempre que obriga a que as homenagens fúnebres ao “eterno capitão” tenham início no Estádio de Alvalade. As exéquias de Manuel Fernandes vão ter início este sábado, às 9h30, com uma cerimónia privada, para a família do antigo avançado. Uma hora depois, as portas do ‘hall vip’ abrem-se ao público até às 23h30. No domingo, o corpo de Manuel Fernandes sai do estádio às 11h00, com cortejo a partir da Praça Centenário para um funeral, mais uma vez, restrito aos familiares.