O Ministério Público acusou o empresário César Boaventura de quatro crimes de corrupção desportiva, três na forma consumada, um na forma tentada. Segundo informações recolhida pela Visão, a acusação diz respeito a suspeitas de ofertas de dinheiro a jogadores do Rio Ave – José Lionn Lucena, Cássio Albuquerque, Marcelo Ferreira – e Romain Salín, então jogador do Marítimo, para favorecerem interesses do Benfica.
Porém, as suspeitas contra a SAD encarnada foram arquivadas, porque as procuradoras entenderam que César Boaventura não detinha nenhum cargo na estrutura do Benfica, nem, muito menos, uma posição de liderança.
Segundo a acusação, durante vários anos César Boaventura “desenvolveu uma ligação profissional e pessoal com Luís Filipe Vieira(…), passando a manter com o mesmo uma relação de grande proximidade e confiança, falando ao telefone e por escrito muito frequentemente”. Porém, o Ministério Público considerou, por um lado, que Boaventura “não tinha poderes para representar a Sport Lisboa e Benfica SAD, não participava da sua vontade ou na manifestação da mesma”; e, por outro, “não se indicia suficientemente” que o empresário “tenha sido incumbido de qualquer tarefa, seja por quem for e, desde logo, por alguém com uma posição de liderança na estrutura da Sport Lisboa e Benfica SAD”.
Certo é que a acusação do MP refere que a 20 de abril de 2016, quatro dias antes de um jogo entre o Rio Ave e o Benfica, Boaventura telefonou a José Lionn Lucena, “transmitindo-lhe que pretendia apresentar-lhe uma proposta contratual ao nível profissional”. “Logo após se terem encontrado (…)”, continuou o MP, César Boaventura disse ao jogador de futebol que “o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, queria pagar-lhe 80 mil euros para ser penalizado com um cartão amarelo na primeira parte, fazer propositadamente um penálti e ser expulso na segunda parte, batendo com a mão no chão”.
Ainda de acordo com a acusação, Boaventura adiantou que tudo seria pago “em notas de 500, a entregar depois do jogo”. As procuradoras Cristiana Mota e Ana Vicente Brandão, do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, referem que o jogador rejeitou a proposta.
“Perante o insucesso”, a 22 de abril de 2016, Boaventura “enviou a seguinte mensagem para o telemóvel de José Lionn: o contrato aumentou para 100 mil euros”. O jogador não respondeu.
Ainda durante o mês de abril de 2016, as procuradores do DCIAP escrevem que o empresário contactou Cássio Albuquerque Anjos: “Após terem ambos entrado para o veículo automóvel de Cássio”, César Boaventura “dirigiu-se a este, dizendo-lhe que interesse na derrota do Rio Ave”, oferecendo-lhe “a quantia de 60 mil euros para que facilitasse a derrota da sua equipa”. “Também Cássio Albuquerque Anjos recusou a proposta”, sublinhou o MP.
A tentativa seguinte passou por Marcelo Santos Ferreira, que também recusou a abordagem.
A última diligência descrita na acusação prende-se com uma abordagem ao então guarda-redes do Marítimo, Romain Salín, com quem o Benfica jogou a 8 de maio de 2016. Ora, o Ministério Público refere que Boaventura contactou o jogador, referindo-lhe ter uma proposta de transferência para um clube estrangeiro, que corresponderia a um salário anual de 300 mil euros. O jogador de futebol não quis manter a conversa e cessou os contactos.
Para as magistradas do Ministério Público, César Boaventura levou a cabo tais contactos, procurando um resultado: “garantir que a Sport Lisboa e Benfica SAD fosse a primeira classificada, no final das 34 jornadas da época 2015/2016”.