“Esta subida foi uma ação simbólica, para que outras pessoas possam encarar esta iniciativa como uma inspiração, para que a autonomia das pessoas com deficiência seja valorizada em pleno, e ajudar a perceber que a atividade física é verdadeiramente inclusiva”, contou Carlos Lopes à agência Lusa.
Num desafio em que levou Cauê, o labrador preto que o guia, o antigo velocista paralímpico, cego total, quis também alertar para a necessidade de apoiar a Associação Beira Aguieira de Apoio ao Deficiente Visual (ABAADV), a única formadora de cães-guia em Portugal, que tem uma lista de espera superior a três anos.
“Acho que conseguimos captar a atenção de particulares e empresas para a necessidade de apoiar uma associação única no país, que vive com 55% de apoios estatais, e 45% de donativos. Mas, ainda queremos, e precisamos, de mais. Não é pelo facto da iniciativa já estar concluída que as causas se extinguem”, afirmou Carlos Lopes.
As expectativas de conseguir subir aos 2.350 metros do Pico no sábado eram baixas, devido à chuva e ao vento, que impediram subidas nos dois dias anteriores, e também por isso, Carlos Lopes considerou que “foi ainda mais saboroso”.
“Concretizámos o objetivo de subir à cratera do Pico. As condições climatéricas eram más, com ventos fortes e granizo. Muito pouca gente conseguiu subir ontem [sábado], eu fui um deles, vivi uma das experiências físicas mais exigentes da minha vida”, admitiu, considerando essencial a “sintonia” que tem com o irmão, Jorge, seu companheiro de subida.
Os dois irmãos e o guia Nuno Gonçalves fizeram a subida em cerca de cinco horas e 20 minutos, enquanto o labrador Cauê ficou a pouco mais de 300 metros do cimo, depois de o dono ter percebido que estava demasiado cansado.
“O Cauê esteve sempre impecável e disciplinado. No início da subida, pensou que era uma brincadeira e andou para cima e para baixo, cansando-se um pouco. Aos 2.300 metros, percebi que estava demasiado cansado e acabou por descer acompanhado, foi a opção mais correta” contou, acrescentando, em tom de brincadeira: “A verdade é que a ele ninguém lhe perguntou se queria subir”.
Com a subida solidária ao Pico – que teve como slogan ‘A importância do cão-guia, só não vê quem não quer’ – no ‘palmarés’, o antigo velocista, detentor de quatro ouros e um bronze paralímpicos, já pensa em mais um desafio solidário, desta vez fora do país.
“Já estamos a falar na hipótese de subir ao El Teide, em Tenerife [Espanha], é uma subida de características diferentes, mas tem cerca de 3.700 metros”, admitiu Carlos Lopes, de 53 anos e psicologo de profissão.
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