‘Yo sólo pido que no me piten’. Parece ridículo que, depois de fazer um hat-trick ao Atlético de Madrid, que deixou já o Real Madrid com pé e meio na final da Liga dos Campeões, em Cardiff (País de Gales), no próximo dia 3 de junho, Cristiano Ronaldo tenha de fazer um apelo à massa adepta do seu clube para que não o assobiem quando as coisas lhe correm menos bem. Ou seja, muito raramente. Diz-se em Espanha que os merengues têm fama de ser uma aficción muito exigente. Talvez. Paulo Futre, ex-craque e um fervoroso adepto dos rivais colchoneros, numa recente crónica no ‘Record’ tem outra opinião: “o que eles estão é mal habituados e são uns mal-agradecidos”. Bem vistas as coisas, muitos desses ufanos adeptos do Real deviam ser comprados pelo que valem e vendidos pelo que eles próprios acham que valem. Isso sim, é que renderia um dinheirão aos cofres do clube.
Ok, é verdade que a derrota no clássico frente ao Barça custou a engolir a muitos madridistas, esperançados em arrumar logo ali a questão do campeonato para centrar as atenções apenas na Liga dos Campeões. E, pior ainda, Leo Messi, o outro extra-terrestre do futebol mundial, marcou duas vezes nessa partida e relançou La Liga, enquanto Ronaldo esteve bastante apagado para os padrões do costume. Mas daí até aos assobios ao portugués devia ir uma grande distância. Afinal, Cristiano Ronaldo não é, ao contrário do que alguns querem fazer crer, o craque que só aparece nos jogos pequenos. Nas duas partidas frente ao Bayern de Munique, nos quartos-de-final da Champions, CR7 resolveu a eliminatória com 5 golos e agora, na primeira mão da meia-final, faturou mais três frente ao eterno rival da capital espanhola. Ou, como escreveu García-Ochoa, jornalista do diário ‘Marca’, ‘uma temporada bem planificada, com os minutos bem medidos, permitiu a Cristiano Ronaldo chegar como um avião ao troço decisivo do percurso, quando se decidem os títulos’.
Mas, mesmo com inúmeras críticas, são muito mais os que se rendem aos números extraordinários do capitão da seleção nacional e do Real Madrid, atual campeão europeu de clubes e seleções e detentor da Bola de Ouro de 2016, a quarta da sua coleção particular. Em sete anos no clube o madeirense contabiliza 389 jogos, 400 golos (!), 42 hat-tricks, fez 109 assistências e venceu 10 títulos. No que toca a golos é mesmo o melhor de sempre do clube merengue, ultrapassando por larga margem ídolos blancos como Raúl González, Ferenc Puskas, Alfredo Di Stéfano ou Hugo Sanchez.
Dois antigos companheiros de equipa do português, Álvaro Arbeloa e Guti, há muito estavam rendidos à sua classe e fizeram questão de o demonstrar durante e após o jogo frente ao Atlético de Madrid. Arbeloa, agora ao serviço do West Ham, foi bem claro no Twitter: “Rendam-se ao melhor jogador do mundo: Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro”. Já Guti esteve ainda mais ativo e, entre as várias mensagens dedicadas a el bicho, pediu “a Bola de Ouro” para CR7.
E até na Argentina onde, por força da rivalidade com Messi, os elogios a Ronaldo são coisa rara, houve quem reconhecesse os méritos do português. “Un crack total” diz o diário desportivo Olé, de Buenos Aires, num texto em que são referidos alguns dos números do jogador apenas nesta temporada da Liga dos Campeões. No artigo principal, o título também era elogioso: “Madrid es de Cristiano”. Bem, todo todo não será, porque quando voltar a falhar um penálti ou um golo cantado lá aparecerão de novo os assobios. Mas esse é o lado para o qual CR7 parece dormir melhor. E quando acordar lá estará para dizer que está ali. Síííí.