A rotina de trabalho do americano Derek Murphy não parece nada diferente da de qualquer outra pessoa. Mas é apenas uma aparência. Ele senta-se ao computador e começa a analisar os seus casos, mas a diferença está na natureza do seu trabalho: Murphy especializou-se a desmascarar maratonistas que tentam fazer batota.
Segundo a BBC, que conta a sua história, o analista de negócios e ex-maratonista ganhou fama ao denunciar no seu blog, o “Marathon Investigacion“, atletas que falsificam os seus tempos, seja apenas pela glória ou para se classificarem para grandes maratonas.
A ideia surgiu ainda durante os seus tempos de atleta, quando costumava frequentar fóruns online, em dias de grandes corridas, e acabava por se deparar, de vez em quando, com escândalos envolvendo figuras conhecidas.
“Havia tanta tensão a propósito desses casos específicos que eu comecei a pensar sobre quantas mais pessoas não fariam o mesmo”, disse o agora investigador, em entrevista à BBC.
No início, Murphy apenas verificava os resultados de cada corrida, mas o seu método evoluiu desde então: observa se por acaso algum competidor tem alguma contagem parcial da prova a faltar, analisa se há fotos do atleta na partida e na linha de chegada, além de procurar vídeos que provem que o maratonista realmente correu toda a competição.
Um das “vítimas” de Murphy foi uma atleta, indentificada apenas como Cindy. Na maratona de Nova Iorque deste ano, ela fez 3h27min29s, um tempo muito mais rápido do que o desempenho que ela tinha tido em evento anteriores. Murphy notou a discrepância, e começou a procurar fotos dela durante a prova. Não encontrou, mas viu um homem alto e atlético a correr com o dorsal de Cindy. Foi desclassificada.
Casos de fraude em maratonas são relativamente comuns. Uma das histórias mais famosas é a da cubana Rosie Ruiz. Ela chamou a atenção dos Estados Unidos ao vencer a Maratona de Boston quase em tempo recorde, apesar de ser uma atleta desconhecida. Dias depois, foi descoberto que ela correu apenas a parte final da prova. Além disso, a possibilidade de estar no evento foi conquistada graças a outro esquema na prova de acesso: cortou caminho ao viajar de metro após a partida…
Batota ainda antes da partida
Grande parte do trabalho de Murphy prende-se exatamente com desmascarar atletas que falsificam tempos para participar nas grandes maratonas. Para estar na Maratona de Boston, por exemplo, é necessário, para um homem com menos de 35 anos, correr algum outro evento abaixo de três horas e cinco minutos, enquanto uma mulher tem até 3 horas e trinta e cinco minutos. Em 2016, 4,5 mil atletas foram impedidos de participar.
Este ano, pelo menos 15 desportistas não correram em Boston por causa do trabalho de Murphy e outros 15 foram observados atentamente durante a corrida após denúncias do investigador.
O método do americano não é, no entanto, unânime e Murphy tem sido acusado de expor publicamente corredores sem destaque que acabam a ter de enfrentar uma reação pública muito maior do que deveriam. Além disso, há casos em que a culpa não é do atleta em si – pode ocorrer um erro no equipmento ao reconhecer um tempo parcial ou até mesmo falha da organização da prova.
É o caso de Ryan Lee, que foi desclassificado da Maratona de Londres do ano passado após a organização suspeitar que ele tivesse saltado partes da prova ao terminar com um tempo muito mais rápido do que o esperado. Lee, que corria para ajudar uma instituição beneficente, defendeu que era inocente, mas só depois de Murphy encontrar fotos dele a correr ao lado de atletas com um tempo semelhante ao registrado, é que o maratonista teve a sua classificação confirmada.
“Eu fui capaz de ilibar alguém, mas se olhasse apenas para os dados, teria pensado que ele fez batota”, admite Murphy.