São cerca de 1400 os atletas que vão competir nas águas do Rio de Janeiro nos Jogos Olímpicos, que arrancam sexta-feira na cidade brasileira. E o alerta chega através de um estudo encomendado e agora revelado pela Associated Press, que ao fim de 16 meses concluiu que as águas onde vão decorrer competições de natação, triatlo, remo, vela e canoagem estão tão poluídas como sempre estiveram, pejadas de vírus e bactérias que proliferam graças ao lixo que todos os dias ali é ‘despejado’: bastará um atleta beber o equivalente a três colheres de chá daquela água para ser altamente provável contrair uma doença infecciosa.
Na Marina da Glória, situada na Baía de Guanabara, que vai receber as provas de vela, a poluição piorou comparativamente ao ano anterior, contra todas as promessas de limpeza e apesar da criação de um sistema de drenagem para impedir que o lixo alcançasse aquelas águas. Em março de 2015, forem detetados 25 milhões de adenovírus por litro de água; em junho deste ano, os números chegaram aos 37 milhões por litro.
Pior ainda está a Lagoa Rodrigo de Freitas, palco das competições de remo e canoagem. De 1,8 mil milhões de adenovírus por litro de água em março de 2015, os registos desceram em junho deste ano para 248 milhões por litro, ainda assim níveis altamente preocupantes, muito acima dos valores a partir dos quais são considerados alarmantes na Europa e nos Estados Unidos.
“Não ponham a cabeça debaixo de água”, aconselha Valerie Hardwood, investigadora do departamento de Biologia Integrada na Universidade da Florida do Sul. Quem não o conseguir evitar, avisa a especialista, arrisca “ficar gravemente doente”.
Para os nadadores que vão participar na prova de 10 quilómetros em águas livres ou na corrida de triatlo, que começa com a natação antes da transição para o ciclismo e depois para o atletismo, é um conselho praticamente impossível de seguir. Uns e outros vão competir nas águas de Copacabana, menos poluídas, mas ainda assim com 7,22 milhões de rotavírus por litro, que constituem a principal causa de gastroenterites e põem também em causa a saúde dos turistas que por ali se banham. Durante os Jogos Olímpicos, são esperados 350 a 500 mil no Rio de Janeiro.
Mesmo na areia não se está a salvo. Nas praias de Copacabana e de Ipanema – as mais frequentadas do Rio – foram encontrados índices preocupantes de vírus no areal.
A acentuada presença de vírus nas águas da cidade maravilhosa deixa os atletas alarmados e, como medida preventiva, segundo a estação televisiva ABC News, alguns começaram a tomar antibióticos – apesar de estes só servirem para combater infeções bacterianas -, além de estarem a munir-se de proteções para minimizarem o contacto com a água. Já todos perceberam que, em busca da glória, vão ter de medir forças no meio da poluição.
“A Baía de Guanabara foi transformada numa latrina e o Brasil perdeu a oportunidade, talvez a última, de a limpar”, lamentou à cadeia televisiva australiana o biólogo brasileiro Mario Moscatelli, que há 20 anos se bate pela despoluição daquelas águas.
Ao contrário dos atletas, os turistas parecem mais despreocupados e desinformados com os perigos das águas em que mergulham. As autoridades governamentais, incluindo o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, já reconheceram o falhanço dos esforços da cidade para cumprir com o que foi prometido ao Comité Olímpico Internacional no que toca ao tratamento das águas.