Ser polémico, em Portugal, é assumir as posições frontalmente e dizer as verdades. Para mim, isso não é ser polémico. Eu sei que os partidos e os clubes de futebol ajudam a resolver muitas coisas na vida das pessoas. Acredito numa terceira via e, apesar de gostar muito de Portugal e dos portugueses, nesse aspecto talvez fuja ao padrão. Reconheço que não é um caminho fácil. Abomino a coacção e os falsos democratas e lutarei sempre pela liberdade de pensamento.
Prefiro sorrir perante aqueles que me querem arranjar clube à força. É giro perceber que a rejeição é vizinha da sedução. Sou benfiquista, antisportinguista e antiportista quando digo bem do Benfica; quando critico o Benfica, torno-me num perigoso sportinguista ou portista. Não há pachorra. Nunca neguei que nasci numa família sportinguista, mas o meu pai morreu a pensar que eu era do Benfica. Identifico-me é com o bom futebol. A minha visão do futebol não tem cor. Defendo ou critico conceitos. Neste contexto, surgem os elogios e as críticas. Posso gostar do FC Porto ou não me dão esse direito?
O humor é uma das vias mais nobres mas mais difíceis de comunicação. Convivo bem com ele. Claro que não chamo humor a algumas ‘chineladas’. Aquela do “ai, ai, ai… mas que raio de democracia é esta?” pegou e foi bem conseguida.
O balanço da minha batalha pela transparência e da introdução das novas tecnologias é extremamente positivo. Agora até a FPF e a Liga são, declaradamente, a favor. Difícil foi suscitar a questão, quando ninguém falava nela.
Não tenho relações de grande proximidade com os protagonistas do futebol, e aqueles a quem permito alguma aproximação resumem-se aos que não questionam as minhas opiniões. Não sou nenhum bicho do mato, privilegio o diálogo, mas convivo muito mal com manobras.
O meu poder, como lhe chamam, advém do facto de não me colocar a jeito. Há uma cultura de favor e de frete, refletida também nalguma comunicação social, perante a qual tento esquivar-me. O meu poder advém do facto de não me deixar capturar. Gosto de gente educada, mas convivo mal com hipocrisias. E no futebol a hipocrisia domina. Ou fazemos fretes ou somos postos de lado. As pessoas não estão habituadas à crítica desalinhada e estranham. Às vezes tornam-se intolerantes e até irracionais.
Depoimento recolhido por Mário David Campos