O que leva um cidadão comum, pagador de impostos e alvo de múltiplas solicitações aquisitivas, isto sem deixarmos os terrenos demarcados da música popular, à disposição de investir centenas de euros para acompanhar a cadência de edições de um artista com 76 anos? Antes das respostas, o enquadramento: para que não restem dúvidas, este caso tem no centro Bruce Springsteen, o imparável. Em Junho deste ano, o Boss acertou contas com o baú, lançando um majestoso Tracks II, que se traduziu em sete-álbuns-sete, com gravações realizadas entre 1983 e 2018 e com um total de 83 canções, grande parte delas inéditas. O preço?
Nada menos do que €285, para os cultores do vinil, ou €180, para os partidários do CD. De seguida, foi de férias – dos discos, mas não dos palcos, onde nem sequer as decorrências próprias da idade parecem forçá-lo a abrandar o ritmo. Em Outubro, nova corrida, nova viagem: a edição especial de Nebraska, originalmente lançado em 1982, então numa saudável manifestação de descomprometimento com as lógicas comerciais, por se seguir a The River e anteceder Born In The USA, passou a quatro CD, mais um disco com filme inédito. Se o álbum original foi registado, de forma solitária, no quarto do músico e num gravador de quatro pistas (!), agora surgem mais 15 temas novos, versões colectivas (com a E-Street Band) das canções antes conhecidas e rústicas, captações ao vivo – uma festa! Para comprar este “luxo”, lá vão mais €175, em vinil, ou €90, em CD. Como há muito ficou dito, é só fazer as contas…

