“Mãe, acabei de ganhar um Oscar!”. Foi assim que Ke Huy Quan, de 51 anos, começou o seu discurso de vencedor na 95.ª edição dos prémios da Academia das Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, que aconteceu na madrugada desta segunda-feira. A felicidade e emoção estavam estampadas na cara do ator, que foi galardoado com o Oscar de Melhor Ator Secundário pelo filme “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”, que está agora nos cinemas portugueses.
Durante o seu discurso, Ke Huy Quan, que nasceu no Vietname, referiu que esteve num campo de refugiados e que o facto de estar em cima daquele palco, naquele momento, era uma grande vitória. “A minha jornada começou num barco. Passei um ano num campo de refugiados. E de alguma forma acabei aqui, no maior palco de Hollywood. Dizem que histórias assim só acontecem no cinema. Não acredito que está a acontecer comigo. Isto é um sonho americano”, afirmou o ator, pedido para que nunca deixem de lado os sonhos que pretendem concretizar.
A verdade é que, antes desta produção, Ke Huy Quan esteve afastado dos ecrãs por falta de oportunidades. A sua carreira começou com o sucesso de 1984 “Indiana Jones e o Templo da Perdição”, no qual Quan interpretou o papel de ajudante infantil de Indiana Jones, Short Round. No ano seguinte, conseguiu mais um papel icónico em “Os Goonies”, mas, nessa altura, “a vida era complicada para os artistas asiáticos”, relembrou o artista. Não tendo mais trabalhos na representação, Quan decidiu abandonar a carreira de ator para trabalhar atrás das câmaras.
“Quando tomei a difícil decisão de deixar de atuar, foi doloroso, mas amo muito esta área. Ainda queria estar nela, então matriculei-me na USC Film School”, contou o ator, numa entrevista à GQ. “Estava contente naquele momento, mas faltava alguma coisa, e eu não sabia o que era. E acho que foi porque, durante anos, menti para mim mesmo ao dizer que não gostava mais de atuar, para fazer com que parecesse menos doloroso”, acrescentou.
Mas o desejo de estar à frente dos ecrãs não desapareceu com o tempo, e Quan percebeu isso com o lançamento do filme “Crazy Rich Asians“. “Vi os meus colegas atores asiáticos no ecrã e tive um FOMO sério [sigla inglesa para “fear of missing out”, que significa “medo de ficar de fora”] porque queria estar lá com eles. Pensei muito nisso, porque não o fazia há 20 anos. Mas quando voltei para a frente da câmara novamente, percebi que foi isso que me falou durante todos estes anos. Estava nervoso, claro, mas de alguma forma todas aquelas memórias maravilhosas de quando eu era criança voltaram”.
Agora que voltou à ação, afirma que está muito feliz. “Chorei tantas vezes a ler [comentários]. Quando decidi fazer isto, não sabia qual seria a reação do público. Não sabia se eles me aceitariam. Ver todas aquelas críticas positivas, ter todas aquelas pessoas nas estreias a serem tão recetivas, chorei tantas vezes. E é muito bom. Estou num lugar tão bom”, afirmou.