Aos 83 anos, a atriz e ativista Jane Fonda foi homenageada com o prémio Cecil B. DeMille, na cerimónia dos Globos de Ouro 2021, que decorreu esta madrugada. A juntar a dois Oscares, um Grammy e sete Globos de Outro, Fonda recebeu este prémio como uma homenagem à sua carreira, mas não apenas pelo seu trabalho enquanto atriz.
“Por mais de cinco décadas, a amplitude do trabalho de Jane foi ancorada no seu ativismo implacável, usando o seu espaço para abordar algumas das questões sociais mais importantes do nosso tempo. Pelo seu talento inegável e pelo compromisso inabalável para provocar mudanças, legitimamos o seu mais alto nível de reconhecimento”. Foram estas as palavras de Ali Sar, o presidente da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, que organiza, nomeia e elege os vencedores dos Globos de Ouro.
Ao receber o prémio, a atriz aproveitou o momento para se dirigir à “comunidade de contadores de histórias”: “Em tempos turbulentos como estes, contar histórias sempre foi essencial. As histórias podem mudar os nossos corações e as nossas cabeças, podem ajudar-nos a ver-nos uns aos outros sob uma nova luz, a ter empatia. E a reconhecer que, apesar de toda a nossa diversidade, antes de mais, somos humanos, certo? Conheci muitas pessoas na minha longa vida, mas, inevitavelmente, se o meu coração estiver aberto, eu olho para lá da superfície, sinto afinidade. É por isso que os grandes condutores da perceção – Buda, Maomé, Jesus, Lao Tzu – falaram connosco através de histórias, poesia e metáforas, porque as formas não lineares e não cerebrais, a arte, falam numa frequência diferente. E podem originar uma nova energia, que pode abrir-nos e penetrar nas nossas defesas, de maneira a que possamos ver e ouvir o que temos medo de ver e ouvir”.
E, mais adiante, Fonda acabou por tecer críticas à própria indústria: “As histórias podem realmente mudar as pessoas. Mas há uma história que temos medo de ver e ouvir sobre nós mesmos, nesta indústria. Uma história sobre quais são as vozes que respeitamos e elevamos e quais são as que desligamos. Uma história sobre a quem é oferecido um lugar à mesa e sobre quem é mantido fora das salas onde as decisões são tomadas.”
A atriz referia-se à desigualdade de direitos e de oportunidades sentida em Hollywood, e utilizou os seus quatro minutos de discurso no pódio para a denunciar. Mais uma vez, mostrou não ter qualquer pejo ao defender quem é vítima de injustiças, criticando diretamente quem a premiou – a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, a qual, atualmente, enfrenta um escândalo que envolve o facto de não ter membros negros nos seus grupos eleitorais.
Durante o discurso, Jane Fonda recebeu várias ovações virtuais, sendo que a mais evidente ocorreu no momento em que deu voz aos restantes nomeados, acrescentando que aprendeu com o trabalho que desenvolveram. Com Minari, afirma ter aberto os olhos para a experiência de imigrantes que lidam com as adversidades de uma vida numa terra nova; com Ramy, diz ter refletido sobre o sentimento de ser um muçulmano-americano, e com Judas and the Black Messias, Ma Raney e U.S. vs. Billie Holiday aprofundou a sua empatia sobre o que significa ser negro.
Terminou com um breve e forte pedido: “Vamos todos, incluindo os grupos que decidem quem é contratado, o que é feito e quem ganha prémios, juntar esforços para que todos se levantem e tenham a possibilidade de ser vistos e ouvidos. Vamos todos ser líderes!”.
Recorde-se que Jane Fonda se tem destacado pelo seu ativismo. Em 1970, fundou o grupo Free the Army para apelar ao fim da guerra no Vietnam e acabou por ser presa. Realizou, igualmente, vários grupos e marchas em torno do feminismo e, nos anos 2000, apoiou vítimas de abusos sexuais. No outono de 2019, durante a campanha Fire Drill Fires, voltou a ser presa, enquanto chamava a atenção para a importância das alterações climáticas.