À medida que o furacão Irma continua a soprar, já ajudado por outros monstros climáticos como José e Katia, também os pólos museológicos norte-americanos, localizados no estado da Florida, estão a preparar-se, à semelhança das populações do território, para o embate da grande tempestade categorizada como de nível cinco. As medidas de precaução incluem o encerramento de portas ao público desde quarta-feira e até ao próximo domingo, dia 10, assim como o cancelamento de todos os eventos programados, e a proteção dos seus valiosos acervos, seguindo as instruções dos responsáveis estatais, que falam na possibilidade desta vir a ser a maior evacuação efetuada nesta zona dos EUA na última década. Entre as instituições que estão de olhos postos nos boletins metereológicos, contam-se alguns museus cuja construção tomou em consideração os crescentes desafios climáticos – mas que, aparentemente, não se sentem preparados para um fenómeno de proporções cataclísmicas, como tem vindo a ser classificado o furacão Irma.
É o caso do The Pérez Art Museum Miami (PAAM), concebido pelo prestigiadíssimo (e premiado com o galardão Pritzker) atelier de arquitetura Herzog & de Meuron: assente no património do Miami Art Museum, enquadrado no chamado Museum Park, inaugurado em 2013, o PAAM integrou os planos de renovação da zona ‘ribeirinha’ de Biscayne Bay. O edifício foi concebido, asseguraram os seus responsáveis, levando em conta a ocorrência de condições meteorológicas extremas: de acordo com uma porta-voz do museu, referida pelo The Art Newspaper, os jardins suspensos exteriores do museu foram construídos para aguentar ventos ciclónicos de categoria cinco, o museu foi instalado sob uma plataforma elevada como medida de prevenção contra as inundações, e as grandes janelas que cobrem a fachada constituiram-se como uma única folha de vidro resistente a tufões, testada na Alemanha – barrotes de madeira com medidas de 2 por 4 metros foram então projetados a alta velocidade contra os janelões, sem causar danos.

O ICA Miami, com inauguração prevista para dezembro, e cuja construção incluiu cuidados anti-tempestade
“A segurança é uma prioridade no PAAM, e a preparação para as tempestades é algo em que nos focamos durante o ano inteiro”, frisou, em comunicado oficial, Mark Rosenblum, um dos diretores deste museu dedicado à arte contemporânea dos séculos XX e XXI. Uma porta-voz da instituição explicou ainda a estratégia de contingência: “Perante a eventualidade de um grande furacão, iremos desinstalar o máximo de obras de arte possível, começando pelos trabalhos mais frágeis – obras particularmente raras, trabalhos em papel sensíveis à humidade e a níveis de temperatura – que serão guardados e armazenados em segurança.”
Um outro edifício com assinatura, cujo projeto adicionou à arquitetura vistosa a resistência às grandes tempestades, é o Institute of Contemporary Art (ICA Miami), alojado no edifício Moore. A estrutura retangular concebida pelo Atelier Aranguren & Gallegos Arquitectos tem inauguração prevista apenas para dezembro próximo, mas uma porta-voz já veio transmitir aos jornalistas que “a coleção está atualmente guardada numas instalações de alta tecnologia, que também contemplam as regras de segurança para furacões”. Do acervo deste museu, dedicado à arte contemporânea e atento à realidade de Miami, fazem parte obras emblemáticas de artistas reconhecidos como Louise Bourgeois, John Baldessari, Julian Schnabel, Thomas Hirschhorn ou Ana Mendieta.

De Louise Bourgeois, Untitled (2001) é uma de entre as muitas obras de artistas contemporâneos de relevo, representados no acervo do ICA Miami
Outros museus de Miami estão também em alerta máximo: The Bass Museum, ainda em construção e com data de inauguração prevista para outubro, acionou um plano de emergência, nomeadamente retirando da sua fachada a instalação néon Eternity now, de Sylvie Fleury. Igualmente encerrados até ao próximo fim de semana, estão The Wolfsonian, o Vizcaya Museum and Gardens e o Faena Art.
O The Art Newspaper refere ainda que também os museus de Cuba podem igualmente estar em risco devido à passagem do furacão Irma, recordando que, aquando do furacão Ike, em 2008, o centro histórico de Havana, onde estão localizados os Museo Nacional de Bellas artes e Museo de la Revolucion, foi gravemente atingido.