Arturo Pérez-Reverte é um dos escritores convidados do Festival Internacional de Cultura que decorre em Cascais entre os próximos dias 9 e 18. Na quarta-feira, 14, às 22h, estará no Auditório Maria de Jesus Barroso – Casa das Histórias Paula Rego para uma conversa conduzida pela escritora Patrícia Reis. À baila virá, certamente, o romance Homens Bons que chega nesse mesmo dia às livrarias portuguesas. Entre realidade e ficção, lê-se como um romance de aventuras, relatando a viagem cheia de precalços, no final do século XVIII, pouco antes da Revolução Francesa de dois membros da Real Academia Espanhola de Madrid a Paris para comprarem os 28 volumes originais da iluminada e revolucionária Encyclopédie de Diderot e D’Alambert. É provável, ainda, que o escritor espanhol fale do seu novo livro, a ser publicado este outono, em que recua aos anos 30/40 do século passado e com cenas passadas no Estoril, à época um epicentro da espionagem mundial.
Pretexto para uma entrevista que recua aos tempos de infância do escritor, nascido à beira do Mediterrâneo, em Cartagena, em 1951, e espreita para um futuro pouco luminoso.
Muitos viram com surpresa como neste século XXI nos debatemos com a irracionalidade total e o obscurantismo, bem simbolizados no extremismo islâmico, no terrorismo…
A mim não me surpreendeu. Os bárbaros estão sempre aí… Quando lemos e estudamos História sabemos que há sempre bárbaros a caminho. Será que fomos tão idiotas ao ponto de acreditarmos que tudo isso tinha acabado? Esquecemo-nos? Agora vêm com a conversa do Islão, amanhã virão com outra conversa qualquer… A barbárie e a violência estão sempre aí. O problema, o grande erro, foi acreditarmos que esta espécie de Disneylândia onde vivemos era o mundo real. Eu sabia, outros sabiam, mas muita gente falava só de um mundo ideal, dos direitos humanos universais, de ser solidário…
Está a falar, também, de uma crise nos discursos sobre multiculturalismo e globalização…
Sim, claro. O mundo é um sítio perigoso, cheio de filhos da puta. O terrível é que o Ocidente e tudo o que custou tanto a construir ao longo dos séculos, liberdades e direitos, com os bons e nobres valores de que falam os protagonistas do meu romance, está a morrer, a desaparecer… E não voltará. Os jovens ignoram-no. Nem se ensina nas escolas…
Porquê?
É uma cultura de facilidade. Temos medo de traumatizar os meninos com a Ilíada, ou com a História… O objetivo principal passou a ser não haver insucesso escolar, e nivela-se tudo muito por baixo. Os sistemas de educação no mundo ocidental, hoje, são feitos para normalizar e desprezam os mais inteligentes. Não se valorizam nada as elites, a própria ideia de elite está mal vista, tem muito má imprensa… Veja-se a mediocridade na política espanhola, ou europeia, ou portuguesa. Onde está um Churchill, um Adenauer, um Kennedy? Logo na escola olha-se de lado para um indivíduo singular, brilhante, destacado. Torna-se suspeito e parece que é preciso igualizar todos. Mas nós não somos todos iguais!