Adie a reforma do seu velho dicionário, porque aqui não se sugere o despautério de trocar o património linguístico organizado em vários livros por um pequeno volume, sob risco de provocar um badagaio aos mais sensíveis. Até porque só uma alimária, um verdadeiro trombalazanas, é que cometeria a aleivosia de confundir Dicionário das Palavras Supimpas (Guerra e Paz, 144 páginas, €13,50) com o Dicionário Houaiss ou outras instituições linguísticas afins. Embora siga o formato de entradas e organização alfabética, esta recolha obedece a um critério bem subjetivo: o autor, José Alfredo Neto, publicitário de profissão, quis elaborar, sem diatribes nem minhoquices, uma coleção de palavras supimpas, tanto recuperando termos esquecidos como abécula (em vez de usar este substantivo feminino, “claro que também se lhe pode chamar totó, pato ou nhonhinhas, mas abécula tem outra categoria”, defende o escriba), como integrando expressões caídas na oralidade, caso de Wannabe (“palavra que quer desesperadamente ser uma só, portuguesa e supimpa”, lê-se).
A tarefa reclama mais uma revitalização do vocabulário do que a exatidão dos significados – por vezes, apenas aqui sugeridos, intuídos ou explicados por semelhança com outros vocábulos. A linguagem quer ser descomplexada, humorada, coloquial. “Num dicionário convencional, entre sulipampa e surripiar surgem páginas inteiras de palavras como suor ou superveniência. Neste, a única que aparece é supimpa. As outras, há que reconhecê-lo, não são supimpas. Logo, não existem neste dicionário. Isto torna-o muito mais elegante, naturalmente, mas também muito mais útil.” À utilidade apregoada, associa-se uma originalidade reclamada, por exemplo, no capítulo dos Insultos supimpas: “Quer achincalhar alguém e só lhe ocorrem banalidades? Digitalize e traga sempre consigo esta lista de possibilidades para as mais variadas situações do dia a dia”, recomenda José Alfredo Neto. Socorra-se de alguns exemplos retirados de Dicionário de Palavras Supimpas:
Balhelhas: sempre que puder, evite chamar taralhouco, gagá, bazaroco ou toino a alguém, chame-lhe antes balhelhas ou, em alternativa, mentecapto, que tem a vantagem de sugerir que também está a chamar mentiroso a esse alguém, embora tecnicamente não seja esse o caso.
Cabotino: outros dicionários podem dizer outras coisas (tivemos o cuidado de não consultar nenhum, não fosse arranjar-se algum problema de direitos de autor ou assim), mas quando se usa esta palavra (o que, infelizmente, é raro) é no sentido de estúpido, camelo, parvalhão e/ou presunças.
Chupista: fulano dado ao cravanço ou à apropriação indevida de guito alheio.
Enfaralhado: confuso, todo trocado, talvez até, quiçá, polvilhado de farinha mas inadvertidamente, e não porque seja um bolo.
Grunho: espécie aparentado do bronco, podendo inclusivamente ser-se os dois (“o gajo é grunho e ainda por cima é bronbco”; v. tb. Labrego e escolher o que mais se adapte às circunstâncias, ao modo de vida que se tem e ao uso que se pretende dar-lhe (um pouco como escolher a raça de um cão, mal comparadamente).
Pespineta: pessoa irritante como só mesmo uma pessoa pode ser.
Poltrão: algures entre o cobardolas e o pusilânime.
Pusilânime: quando se confronta um cobardolas com a sua cobardolice, deve sempre evitar-se dizer-lhe que não passa de um cobardolas, porque o cobardolas pode muito bem ser menino para se sair com um “aí é que te enganas”, se for um daqueles cobardolas malcriadões que tratam as pessoas de bem por tu, “porque aqui onde me vês sou pusilânime”, e nesse caso a pessoa de bem vê-se obrigada a dar razão a um pusilânime malcriadão, e não apenas a um mero cobardolas.
Sacripanta: mais um dos tais tipos que não tem cara para levar um estalo, ali a meio caminho entre o marmanjo e o patife (v. um e outro, comparar e, na dúvida, chamar-lhe tudo)
Sevandija: dificilmente se pode arriscar um significado para esta palavra sem consultar outro dicionário; feito isso, chega-se à conclusão que os outros dicionários, não desfazendo, dizem cada um a sua coisa; conclusão: deve ser uma espécie de sacripanta mais pequenino.