O punk não está morto, já gritava a banda The Exploited, no seu disco de estreia, em 1981. E observando agora as brancas paredes do Museu d’Art Contemporani de Barcelona – MACBA, preenchidas com fotografias, instalações, esculturas e vídeos, pinturas e documentários, todos muito mal comportados, percebe-se que o espírito do movimento contestatário está bem vivo e recomenda-se. A exposição Punk. Os Seus Vestígios na arte Contemporânea (numa tradução portuguesa livre), inaugurada na sexta-feira, 13 de maio, reuniu obras de mais de 60 artistas de várias nacionalidades, com o objetivo de traçar as influências do punk na arte contemporânea. De Tracey Emin a Jean-Michel Basquiat, de Hans-Peter Feldman a Eduardo Balanza, a lista percorre nomes reconhecíveis do circuito das artes plásticas, e trabalhos com provocação q.b..
Não há telas rasgadas, nem roupas com tachas à vista, ou efígies dos Ramones a receberem o público à entrada: o espírito punk manifesta-se, aqui, nas referências e temas trabalhados: ruído, violência, inconformismo, perda da fé no progresso e crítica feroz do sistema económico e social atual… Mais um pouco de volume, e quase estaríamos numa manifestação anti austeridade? Somos todos punks?
Na década de 1970, Londres e Nova Iorque foram os berços desta subcultura, sentida por uma jovem geração que elevou a insatisfação e a raiva a bandeiras, desfraldadas ao som de bandas sonoras com elevados decibéis. A exposição recorda essa mesma história, partindo do livro Lipstick Traces. A Secret History of the Twentieth Century (Traços de batom. Uma História Secreta do Século XX), da autoria do jornalista e crítico musical Greil Marcus, que, em 1989, identificou essas mesmas insatisfação e raiva ainda a pulsarem, e que criou um timeline do movimento punk, até às suas origens – não nas ruas, mas nos movimentos Dada e Situacionistas. Malcolm McLaren, o mentor dos Sex Pistols? Um Dada de primeira água, vestido por Vivienne Westwood.
Punk. Os Seus Vestígios na arte Contemporânea cria outra timeline, procurando as influências do punk nos artistas atuais: nas técnicas usadas, nos materiais, na procura de uma certa “estética do feio” ou na inclusão de som e de referências a bandas punk. David G. Torres chama a atenção para a herança punk enquanto atitude: “Negação, oposição e destruição; o ‘faça-você-mesmo’; a alusão ao medo e ao horror numa sociedade que aliena os indivíduos; a mesma alienação que provoca estados psicóticos; a atração por tudo o que seja fora da norma; o niilismo; a crítica do sistema económico e a anarquia; ou a exigência da liberdade sexual, e o corpo como lugar de batalha.” E o comissário não desdenhou a importância da música: há peças que, assumidamente, incluem som e referências a bandas icónicas. E, para contextualizar ainda melhor a coisa, o público pode ouvir seleções musicais de temas punk, ou visitar um núcleo documental paralelo à exposição. God saved the punk…
MACBA, Plaça dels Angels, 1, Barcelona, T. 0034 934813368. De 14 mai a 25 set, seg 11h-19h30, quar-sex 11h-19h30, sáb 10h-19h, dom 10h-15h