Incontornáveis
Balada da Praia dos Cães, de José Cardoso Pires
Relógio D’Água, 248 págs., €15,50
Reedição do ano, juntamente com O Anjo Ancorado, O Delfim, e De Profundis, Valsa Lenta, o romance do autor excelentíssimo faz-nos regressar a 1960, quando um cadáver é farejado na Praia do Mastro. A investigação à vítima, um major em rota de colisão com o regime vigente, é descrita por entre relatórios, rodapés biográficos, narrativas paralelas incluindo a história antes da descoberta macabra e a sua relação com três cúmplices.
Elias Santana, chefe da brigada da judiciária, triste figura em casaco de xadrez e “alfinete de pérola adormecida”, vai desenterrando o mistério afogado nas brutalidades do Estado Novo. Uma obra que se lê como um fio de areia a correr por entre os dedos – sem parar.
Ilhas na Corrente, de Ernest Hemingway
Livros do Brasil, 464 págs., €18,80
Ler Hemingway é sempre uma viagem por um universo vigoroso e aventureiro, mas também um exercício de deteção da biografia no puzzle das personagens. Nesta obra, a primeira a ser publicada postumamente, há Thomas Hudson, pintor americano, eremita por vocação, lançado à deriva por acontecimentos trágicos: os três filhos visitam-no em Bimini, ilha das Bahamas, para um verão feliz, que, no fim, se quebrará com a morte de dois deles. Um drama que provoca a procura por redenção nas geografias reconhecíveis do próprio Hemingway: Cuba.
Finalmente o Verão, de Mariko Tamaki e Jillian Tamaki
Planeta Tangerina, 332 págs., €18,90
Aviso à navegação: esta novela gráfica é indicada para maiores de 13 anos, e pode ser lida com igual prazer por leitores até aos… 103. O traço ágil, inventivo e lírico, que foge muitas vezes ao quadradinho convencional, submergindo o leitor em sensações poderosas (estar debaixo de água, sentir a escuridão, cair…), serve uma história iniciática à vida adulta. Em Awago Beach, onde a família de Rose passa sempre as férias numa casa alugada junto ao lago, e onde a adolescente explora a natureza com a amiga mais nova, Windy, tudo parece diferente este ano: há dramas no ar, divórcios, sarilhos com rapazes, a descoberta do sexo, segredos.
Um Estado Selvagem, de Roxane Gay
Teorema, 400 págs., €22,90
Poderia ser apenas um bom thriller psicológico. Mas o primeiro romance desta norte-americana subverte expectativas ao primeiro parágrafo: lemos que Mireille Duval Jameson, filha de um bilionário do Haiti que criou os filhos nos EUA, foi raptada em Port-au-Prince, e sofreu abusos no cativeiro de treze dias. Mas sobreviveu: “Queriam vergar-me. Não era pessoal. Não fui vergada. É o que digo a mim mesma.” Síndrome de Estocolmo? De todo. Numa escrita contundente, a obra aborda conflitos de classes e dilemas morais atuais: os ricos devem pagar pela crise dos pobres num território devastado como o haitiano? O desespero justifica a violência?
Experiências radicais
Novelas Extravagantes, de Mário de Carvalho
Porto Editora, 200 págs., €14,40
Seja na antiga Olisipo, na capital medieval ou na Lisboa pré-revolução, a capital ampara três histórias, já publicadas e agora reunidas, onde os caminhos são ínvios, as aventuras rocambolescas, e a linguagem, essa nunca sustenta frases bisonhas. A abrir, em Quatrocentos Mil Sestércios encontramos um filho, “prova viva das imperfeições do universo”, a falhar a incumbência paterna de ir cobrar a um magarefe uma dívida já atestada de juros. Segue-se O Conde Jano, com um cruzado desditoso na variante de um romance popular. E Apuros de um Pessimista em Fuga mostra um “revolucionário de meia-tigela” em missão clandestina, que falha os sinais de Abril mesmo debaixo do seu nariz.
O Destino Turístico, de Rui Zink
Teodolito, 280 págs., €16
Uma mulher que cambaleia pela rua com um filho ensanguentado nos braços apercebida como um acessório na paisagem, um quarto de hotel rebentado por um míssil, limusinas gratuitas para ir ao mercado onde se compra material militar com a mesma facilidade de potes de artesanato, enforcamentos públicos vividos como se fossem concertos rock e filmados por telemóveis, encenações perigosas para turista ver… Este mundo absurdo, retratado por Zink em 2008, foi o início da sua tetralogia dedicada à crise e continha já uma visão sobre a “instalação do medo”, que titulou um muito atual romance posterior.
O Outro Lado do Paraíso, de Paul Theroux
Quetzal, 376 págs., €18,80
O mestre da literatura de viagens tem andado a acertar contas com as suas memórias africanas. Neste romance, tão descritivo como as reportagens, ele sublima a frustração com o presente através de um anjo caído: Ellis Hock, gerente de um velho negócio de pronto-a-vestir, herdado a contragosto, sonha ainda com a sua África feliz. Esse lugar onde se apaixonou, e onde era professor respeitado do Corpo de Paz, numa localidade inocente do Malawi (país onde Theroux viveu). O divórcio dita o regresso à utopia perdida, mas Malabo é, agora, um lugar em ruínas, comido pela corrupção. Hock enfrentará um dilema “branco “: salva os outros ou salva-se a si próprio?
O Caçador do Verão, de Hugo Gonçalves
Casa das Letras, 200 págs., €14,50
José abre o álbum de recordações da infância quando é convocado pelo avô, figura paternal que o acolheu quando a mãe o trocou por uma aventura espanhola com o namorado. O mundo algarvio entre a aldeia da Mata Seca e a Quarteira sem filas de trânsito, era, em 1982, um sítio mágico. A mitologia dos Irmãos Bexiga, fugidos da prisão, dominava as conversas populares, ele encenava aventuras detetivescas com os amigos (Mata-Coelhas, Caça a Burra e Gillette), e descobria a nudez feminina num circo iluminado por gambiarras. “O pasmo, a beleza, o começo da tirania…” Receita para um livro elegíaco, com muito encanto.
Inspirados em histórias verídicas
A Esperança, de André Malraux
Livros do Brasil, 520 págs., €18,80
Reportagem ou romance, o velho debate a propósito deste livro, publicado em 1937, perde importância ou sentido face à sua cadência vertiginosa e humanista. Escrito a partir da experiência de Malraux (1901–1976), que foi um dos milhares de voluntários das brigadas internacionais que lutaram ao lado dos republicanos contra Franco durante a guerra civil espanhola, a obra é uma reflexão sobre a guerra que, hoje, se torna pertinente reler. E é um retrato fascinante dos combatentes, como o ingénuo capitão Hernandez ou o impulsivo dissidente russo Magnin, a quem o ponderado Garcia dirá isto: “A nossa modesta função, senhor Magnin, é a de organizar o apocalipse…”
O Amante Ingénuo e Sentimental, de John le Carré
D. Quixote, 512 págs., €19,90
Haverá muitos para quem as leituras de verão nunca serão gratificantes sem um clássico de Le Carré à mão; isto é: a espionagem vista por dentro mas com a segurança dos pés enterrados na areia da praia. Este livro de 1971 é uma exceção à regra da produção do autor e vale como curiosidade autobiográfica. Ao sexto romance, John le Carré ensaia um registo mais literário: um triângulo amoroso entre um homem ingénuo (Aldo Cassidy), um artista desbragado (Shamus) e uma sedutora (Helen), baseado numa aventura pós-divórcio da primeira Sra. Le Carré. O público, esse, é que teve dificuldades em perdoar-lhe a traição aos thrillers.
Verão Ártico, de Damon Galgut
Jacarandá, 320 págs., €17,50
É ao seu protagonista que este autor sul-africano rouba o título do romance, equilibrismo entre ficção e biografia: E.M. Forster, que escreveu clássicos como Passagem para a Índia e Howard’s End, nunca terminou o seu Verão Ártico. Usando pesquisa extensa e as notas pessoais do britânico, Galgut constrói uma narrativa elegante sobre a descoberta tardia do amor e da sexualidade por Maurice Foster, vividas em paisagens exóticas, integradas no mapa colonial inglês: a admiração pelo amigo indiano Masood, a relação com o condutor de elétricos do Cairo Mohammed el Adl, as atrações vividas no reino de Dewas, na Índia.
Na Margem, de Rafael Chirbes
Assírio & Alvim, 448 págs., €17,70
Um cadáver é descoberto no pântano de Olba escolha estilística redundante que serve a denúncia de um mundo destruído pela crise, e do bairro de Rafael Chirbes. Considerado o melhor romance espanhol de 2013 pela imprensa espanhola, o livro é um vendaval implacável que não poupa ninguém: capitalistas, muçulmanos, consumistas, novos ricos, traidores de internet, especuladores imobiliários, credores, todos merecem ataque e linguagem despudorada à maneira de um Houellebecq sem pretensões. No epicentro do furacão, está Esteban, proprietário de uma carpintaria que foi obrigado a fechar portas e a despedir cinco pessoas, cuidador de um pai nonagenário, que se vê sem presente nem futuro.
Aquele Verão, de Bill Bryson
Bertrand, 560 págs., €19,90
Um almanaque exuberante que é um retrato americano no ano de 1927, uma breve história de quase tudo o que é made in USA, traçado no estilo enérgico, humorado, de um autor que, por vezes, prefere as listagens à utilidade dos factos. Os grandes acontecimentos da época a travessia do Atlântico de avião por Charles Lindbergh, os remates de baseball de Babe Ruth, a criação do modelo A por Henry Ford, o assassinato de Ruth Snyder, a estreia de The Jazz Singer, as cheias do Mississípi, o racismo, entre muitos outros temas, historietas e maquinetas são convocados para nos entreter.
Viajar sem sair do lugar
Terra Nullios – Viagem aos Antípodas, de Sven Lindqvist
Tinta da China, 248 págs., €17,90
O autor sueco percorreu cerca de 11 mil quilómetros por entre montanhas e planícies da Austrália com um propósito político e histórico: a procura de vestígios e provas de um passado apagado, o da cultura aborígene. Lindqvist fala mesmo em genocídio, e na importância de alertar para os “crimes do passado”, ocorridos quer sob o jugo colonial quer sob as motivações racistas. O resto é paisagem, mesmo quando se trata da “monotonia magnífica e majestosa ” da estepe árida australiana que tanto o impressiona.
O Pacífico de Lés-a-Lés, de Michael Palin
Bizâncio, €15,90
Em 1997, data da publicação original do livro, o ex-Monty Python reproduzia as opiniões gerais que defendiam que “o século do Pacífico está para começar.” Confessando-se ignorante sobre o que era a nevrálgica “Orla do Pacífico”, Palin lançou-se ao terreno, isto é, aos 181 milhões de quilómetros quadrados. Com a sua graça característica, descreve uma aventura por 18 países, que o levou a confraternizar com caçadores de cabeças do Bornéu, a escalar as Montanhas Sagradas da China, ou a ter insónias à beira do Lago Titicaca, no Peru.
Suspense e ação
O Jantar, de Herman Koch
Alfaguara, 303 págs., €16,90
A premissa deste bestseller lembra O Deus da Carnificina: dois casais num jantar civilizado, fazem uma dança de cadeiras, de talheres, de subterfúgios, até abordarem o temível assunto que ali os reuniu. Os filhos, rapazes de 15 anos, cometeram uma atrocidade impensável (depressa adivinhada), e há que tomar uma decisão sobre o seu futuro. Aperitivo, entrada, prato principal, sobremesa, eis o andamento narrativo, bem servido pelo diálogos vivos, que levará ao veredicto final, à erosão ética, e ao estilhaçamento da ideia de uma Holanda (uma Europa?) tolerante.
Objetos Cortantes, de Gillian Flynn
Quetzal, 320 págs., €16,60
Aqui, estamos nos primórdios do género do “domestic noir”, que, em 2012, o seu thriller Gone Girl/Em Parte Incerta inspirou. Este romance de 2006 tem uma influência mais difusa, ainda que a maquinaria do mal, latente no seio familiar, já rumoreje. Mas se a escrita era já estilete fino, a ideia do serial killer é ferramenta ainda chamada. Camilla Preaker, jornalista sem futuro e com tendência a automutilar-se, é solicitada a cobrir o caso do assassínio de uma menina, em Wind Gap, cidade onde vive ainda a família disfuncional. E os ventos começam a soprar em todas as direções…
Segredos Obscuros, de Michael Hjort e Hans Rosenfeldt
Suma, 544 págs., €19,90
Uma sugestão para os apreciadores das baixas temperaturas dos policiais em versão nórdica; isto é, narrativas realistas, gélidas, de cortar à faca. Atentos à realidade contemporânea, dois autores suecos um produtor de cinema, o outro criador da série televisiva Bron (The Bridge/A Ponte) idealizaram um profiler especializado em serial killers, destroçado pela perda da mulher e filha no tsunami do oceano Índico. O luto de Sebastian Bergman (a ressonância deste apelido…) será interrompido por um crime perturbador: um rapazinho morto a quem tiraram o coração.
Diário de um Killer Sentimental, de Luis Sepúlveda
Porto Editora, 136 págs., €13,30
O autor chileno conquista com primeiros parágrafos destes: “O dia começou mal, e não é que eu seja supersticioso, mas acho que em dias como este o melhor é não aceitar nenhuma encomenda, ainda que a recompensa tenha seis zeros à direita.” Noir oblige, entra em ação a femme fatale… Entre killers, detetives e assassinos à solta no Pantanal, as três novelas negras aqui reunidas, Diário de um Killer Sentimental seguido de Jacaré e Hotline, são para ler numa tarde à sombra.
Sabor a Brasil
O Cheirinho do Amor, de Reinaldo Moraes
Quetzal, 232 págs., €16,60
“Crónicas safadas” para ler, partilhar e ficar perplexo sobre o que é que ele está a dizer neste português tão colorido. Autor de Pornopopeia, já editado em Portugal, este brasileiro desbragado e divertido revela textos, originalmente publicados na revista masculina Status, muitos deles com bolinha vermelha ao canto, tudo graças ao calão, ao sexo omnipresente, ao à-vontade a chamar as coisas pelos nomes. Mas também há relatos singulares, como o dessa noite em que, num “reduto de cinéfilos” no Quartier Latin, Moraes deu de caras com um par gargalhador no escurinho: Catherine Deneuve e Serge Gainsbourg.
Dias Perfeitos, de Raphael Montes
Companhia das Letras, 336 págs., €15,90
Escrito em parágrafos enxutos, e com um volte-face de calafrio, o segundo romance do carioca, jovem estrela do policial brasileiro, poderia chamar-se Louca Obsessão, citação do clássico cinematográfico. Téo, estudante de medicina e psicopata latente, mais à vontade com cadáveres para autópsia, rapta a alegre Clarice (“não me venha falar da Lispector!”), que sonha em ser guionista de cinema. O mundo organiza-se às avessas, como um filme em rewind. Um livro-revelação para levar na bagagem.
A Casa das Rosas, de Andréa Zamorano
Quetzal, 160 págs., €15,50
Romance de estreia, arrisca um tema tabu: uma paternidade aleijada, ciumenta. A atmosfera hitchcockiana, vivida num casarão real, localizado em São Paulo, repercute as inquietações brasileiras numa década de mudanças, em 1980. Eulália, “orfãzinha rica, oprimida toda a vida pelo pai reacionário” deixar-se-á tentar pela liberdade, a das palavras e a de um “cabeludo (…) que encheu os seus ouvidos com versinhos revolucionários.”
Para não desligar do mundo
Na Pele de uma Jihadista, de Anna Erelle
Alfaguara, págs., €15,50
Este nome esconde a jornalista freelancer francesa que passou um mês infiltrada no universo das jovens noivas europeias da jihad, ao serviço de uma revista francesa. Anna Erelle, hoje debaixo de proteção policial e a viver sem poder revelar a sua identidade, criou um perfil de Facebook falso onde assumia a personalidade de Mélodie Nin (apelido inspirado pelas leituras de Anais Nin), uma jovem de 20 anos recentemente convertida ao Islão. Foi sentada no sofá do seu T1 parisiense que recebeu um contacto de Abu-Bilel, figura destacada no Estado Islâmico, e que lhe pediu para viajar para a Síria e ser sua mulher. A publicação do artigo conduziu à proclamação de uma fatwa contra ela. O livro, num registo nervoso e descritivo, onde não esconde os medos, documenta a realidade (e os riscos) que encontrou.
O Fim do Homem Soviético, de Svetlana Aleksievitch
Porto Editora, 472 págs., €15,50
Investigadora e jornalista multipremiada, dedicou os últimos 35 anos a uma pesquisa pela insondável alma russa e pelas mágoas do dito homem vermelho, ou seja, da nação que emergiu depois de Gorbatchov, esperançosa num futuro brilhante. Vencedora do prémio Médicis Ensaio 2013, esta obra, com o revelador subtítulo Um Tempo de Desencanto, faz uma análise abrangente e humanista, utilizando uma estrutura polifónica: à maneira de um coro, lemos testemunhos pessoais que confessam memórias e expectativas face ao processo democrático.
O que o Dinheiro Não Pode Comprar, de Michael J. Sandel
Editorial Presença, 240 págs., €15,90
Num tempo em que a comunicação parece saturada, ou condicionada, pelos direitos dos mercados, é útil considerar uma outra perspetiva virada para os “limites morais dos mercados”. Este professor da Universidade de Harvard não quer discutir juros da dívida ou atitudes de credores, nem tem preocupações estritamente ideológicas. Sandel aborda os riscos da mercantilização de bens que não deveriam ser objetos de quantificação, logo de banalização sob pena de perderem dignidade, valor, utilidade humana. E fá-lo falando de coisas díspares como, por exemplo, a ética da fila, a segurança privada, a poluição industrial, a venda do sangue, o marketing municipal, o pagamento às crianças como incentivo para terem boas notas…
Os Marcianos Somos Nós, de Nuno Galopim
Gradiva, 344 págs., €13
O Planeta Vermelho sempre foi um espelho onde foram projetadas crenças e pavores da história humana, cruzando ciência e cultura em partes iguais. Este pequeno livro reúne desde as histórias literárias, as adaptações fílmicas, as inspirações musicais (David Bowie…), às utopias e distopias marcianas, as descobertas, os conceitos (“terraformar “, quem sabe o que é?), num estilo preciso: o de alguém genuinamente fascinado pelo tema.
Os bestsellers que todos andam a ler
Um jornal diário de fachada, cuja redação é paga para criar edições fictícias, para agradar aos poderes? Número Zero (Gradiva, 164 páginas, €12), de Umberto Eco, será um clássico do futuro próximo: julho e agosto, para já. A interrogação sobre o presente na análise, sempre polémica, de Raquel Varela, em Para Onde Vai Portugal? (Bertrand, 264 págs.,€15,50) vai ocupar muitos debates informais. E porque o futebol está sempre na ordem do dia, o inédito livro de crónicas de Dinis Machado, A Liberdade do Drible (Quetzal, 104 págs., €14,40), é o perfeito pontapé de saída para qualquer relvado campo-esplanada… Os muitos leitores dos romances históricos de Isabel Stillwell já têm, decerto, este peso extra na bagagem: D. Teresa (Manuscrito, 512 págs., €23,90) é a biografia romanceada da rainha que derrotou até o próprio filho D. Afonso Henriques no campo de batalha. Auschwitz e controvérsia sobre a qualidade literária são uma combinação explosiva, quando se falar de A Zona de Interesse (Quetzal, 352 págs., €18,80), de Martin Amis um autor para todas as estações. Por fim, que valor terá a opinião de Mark Zuckerberg? A 12.ª escolha do criador do Facebook para o seu clube literário A Year of Books está agora traduzida em português. Sapiens História Breve da Humanidade (Vogais, 496 págs., €21,98), de Yuval Noah Harari, tem muitas páginas para responder a uma questão simples e complexa ao mesmo tempo: afinal, quem somos nós?
Espreitar as vidas dos outros (sem culpa)
Tempo de biografias. A Minha Luta:1-A Morte do Pai e A Minha Luta:2-Um Homem Apaixonado (Relógio D’Água, 384 págs., €22 + 568 págs., €24) são os dois primeiros tomos de uma série planeada de seis livros, em que o norueguês Karl Ove Knausgard romanceia a sua biografia com uma honestidade implacável, criando um género só seu. O luto paterno e a saída de casa assim como o encontro com a nova companheira são os temas iniciais. Rara nas tribunas nacionais é também a honestidade de Rita Ferro: Só se Morre Uma Vez é o segundo volume do seu Diário (D. Quixote, 312 págs., €16,90), onde surgem nomes verdadeiros e confissões cândidas sobre a solidão dos 60 anos, o cansaço com a literatura lida, os bastidores de um certo millieu. Registo diferente tem Ora, Como Eu Dizia… (Planeta, 440 págs., €24,40), a autobiografia “séria” do Monty Python John Cleese, em que este revela os conflitos com a mãe, os traumas com o nome verdadeiro (Cheese, na verdade), os primeiros passos como humorista. Em Angola Quando o Impossível se Torna Possível (Sextante, 168 págs., €13,30), Anabela Chipeio Muekalia conta o percurso como órfã de mãe morta na guerra, depois exilada na Namíbia, guerrilheira da UNITA, professora universitária nos EUA. Os Filmes da Minha Vida, de François Truffaut (Orfeu Negro, 352 págs., €23) mistura textos, opiniões e memórias do realizador francês, então com 40 anos mas ainda desassossegado, que confessava estar sempre “do lado dos vaiados contra vaiadores”.
Ebooks a descarregar
Como é a paisagem das relações amorosas nesta época de redes sociais e de protocolos em constante mudança? Como interpretar emoticons enviados a despropósito, entre outras questões relevantes, é a missão do comediante Azis Ansari em Modern Romance uma investigação amparada por um sociólogo, residente no top do The New York Times há semanas. Sick in the Head, do ator e realizador Judd Apatow, reúne um conjunto de conversas delirantes com outros humoristas como Jerry Seinfeld, Jon Stewart ou Lena Dunham. Para quem gosta de thrillers puros e duros, sem grande pendor existencialista, então há que descarregar Tom Clancy Under Fire: é uma tentativa a solo de Grant Blackwood, colaborador do escritor que morreu em 2013, para continuar as aventuras do agente especial Ryan JR. E falando em verão… Para os que tenham baixa tolerância à pressão social ou à curiosidade, há sempre Grey, o novo volume escrito por E. L. James. Os críticos de língua inglesa disseram malvadamente que esta é apenas a mesma história e as mesmas cenas, e os mesmos diálogos dos volumes anteriores da saga As Cinquenta Sombras de Grey, mas com a perspetiva masculina de Christian Gray.
Miúdos, plano de leitura
Poemas para Bocas Pequenas (livro + CD Boca, €16), de Margarida Mestre e António–Pedro, pode ser o início de uma tarde bem passada. Sandro William Junqueira escreveu A Cantora Deitada (Caminho, €10,90) sobre uma menina que, um dia, se deita no chão para cantar. Sem texto, Verdade?! (Pato Lógico, €13,50) mostra as inacreditáveis aventuras no mar de um pescador e do seu cão, desenhados por Bernardo P. Carvalho. Para pré-adolescentes, os contos de Bichos (€12,90), de Miguel Torga, ou O Meu Pé de Laranja Lima (Booksmile, €12,99) de José Mauro de Vasconcelos. E para os adolescentes, A Pérola (Livros do Brasil, €11), fábula de John Steinbeck; e Os Bebés da Água (Tinta da China, €18,90), de Charles Kingsley.