Vilar do Torno e Alentém é uma freguesia do concelho de Lousada, com 1 300 habitantes, a cerca de 40 quilómetros do Porto. É uma zona de campo fértil e casas apalaçadas. É também um dos centros do cinema animado em Portugal, merecedor de romarias. Passamos a explicar. Ali fica a casa de Abi Feijó, pioneiro na internacionalização do cinema animado em Portugal. A casa é uma herança de família, que partilha com a sua esposa, a realizadora Regina Pessoa, e um casal amigo, também ligado a animação, os canadianos Norman Rogé e Márcia Page. É uma casa senhorial extensa, de arquitetura brasileira, com dezenas de divisões, e uma quinta cultivada. Tem espaço para tudo. Para um estúdio onde trabalham os filmes e espaço para um pequeno museu, com apenas três salas, que está há três meses aberto ao público e vale o desvio (aconselha-se a marcação prévia). Meritório esforço também em prol da descentralização, num país em que dificilmente resultam projetos fora dos centros urbanos. Na primeira sala, encontramos artifícios do pré-cinema: as primeiras máquinas que provocaram a ilusão de movimento. É uma boa coleção transversal ao tempo que mostra que a ideia de ‘animação’ é anterior ao próprio cinema. Uma segunda sala é dedicada apenas aos trabalhos de Abi e Regina. Encontramos as maquetas de Fado Lusitano ou a superfície onde fez Clandestino (adaptação de José Rodrigues Miguéis desenhada em areia). Numa terceira sala estão desenhos-frames de amigos animadores. Um espólio numa região improvável que faz da Lousada a capital de animação a norte, já que a sul, em Montemor, existe outro importantíssimo polo: os estúdios de José Miguel Ribeiro.
Assinalando a súbita importância de Lousada no mundo do cinema animado, a Casa da Animação, com sede no Porto, promoveu naquela vila uma festa que assinala o Dia Mundial da Animação. Na Festa da Animação foram atribuídos os prémios Nacional e de Escola para a Animação portuguesa. Sem grande surpresa, o prémio principal foi para Fuligem, de David Doutel e Vasco Sá, um digno sucessor de O sapateiro, com condições para ganhar grandes prémios em festivais internacionais. E o prémio de escolas foi para Osmose, de David Ferreira, João Santos, Margarida Pereira, Pedro Baginha e Rui Silva, da Universidade Lusófona, uma visão simbólica da vida em sociedade, identificando-se o pecado original como o egoísmo. Com vários convidados nacionais e estrangeiros, proporcionando sobretudo workshops para estudantes de animação, a Festa celebrou a animação portuguesa, que prova resistir apesar de o corte (ou intermitência) de subsídios ser particularmente penalizadora nesta arte cinematográfica, em que, muitas vezes, pequenos filmes demoram anos a ser finalizados.