Ator, argumentista, produtor, escritor, fotógrafo, artista plástico, ativista político e um dos mais importantes cineastas da história do cinema brasileiro, Neville D’Almeida espalhou a sua criatividade pelas diversas linguagens artísticas. Esta mostra do cineasta brasileiro vai proporcionar a apresentação de obras experimentais, como ‘Jardim de Guerra’, realizado em 1970, que foi proibida pela censura da ditadura militar e só aprovada seis anos mais tarde, com dez cortes e que será exíbida na íntegra; até aos clássicos da cinematografia nacional, como ‘Os Sete Gatinhos’ (1980). E irá ainda mostrar filmes raríssimos, como ‘Mangue-Bangue’, de 1971, apontado pelo artista plástico Hélio Oiticica como uma ‘experiência limite’. Neste filme Neville D’Ameida procurava criar um painel do Brasil na época e inclui imagens captadas no Mangue, zona de prostituição do Rio de Janeiro. Temendo a repressão, Neville levou os rolos de filme para Londres e depois para Nova iorque, exibindo-os para Hélio Oiticica em 1973, numa sessão no MoMA. Desde então, o filme ficou perdido nos arquivos do Museu, até ser redescoberto em 2010. Contudo serão exibidos 12 longas e 12 curtas, realizados durante seus mais de 40 anos de carreira. A mostra inclui os títulos de maior sucesso de bilheteria de Neville D’Almeida, como ‘A Dama do Lotação’ (1975), que detém a marca histórica da terceira maior bilheteria nacional, ‘Os Sete Gatinhos’ (1980), um clássico da cinematografia nacional, e ‘Navalha na Carne’ (1997), adaptação da obra do escritor maldito Plínio Marcos. O filme contou com um ícone brasileiro, Vera Fischer, e com o ator cubano Jorge Perrugoría, que havia feito os sucessos ‘Guantanamera’ (1995) e ‘Morango e Chocolate’ (1994). A programação incluirá ainda outros grandes sucessos de Neville, como o polémico ‘Rio Babilônia’, com Jardel Filho e Christiane Torloni (1982), apontado como um filme profético, ao tratar de temas como a relação entre o asfalto e a favela, o consumo e o comércio de drogas na cidade e a escalada da cocaína, além de fazer um retrato sem disfarces da sexualidade. E também ‘Matou a família e foi ao cinema’ (1991), uma releitura do clássico de Júlio Bressane de 1969. ‘Neville d’Almeida – Cronista da Beleza e do Caos’, serão 33 sessões que promovem um passeio pela obra deste criador inquieto, artista contestador, que nunca deixou de lado a vontade de experimentar e romper limites. Da sua obra constam cerca de 15 longas-metragens, mais de 100 curtas (aproximadamente 80 filmes só em super-8), oito documentários, dois livros (sendo um romance, ‘A Dama da Internet’), instalações artísticas (‘Cosmococa 5 Hendrix War’, de 1973, criado em parceria com Hélio Oiticica, que pode ser visto em Inhotim). O programa inclui ainda uma conversa-debate com o cineasta, no dia 17, às 20h. que vai contar com a presença do pesquisador e produtor audiovisual Gilberto Barral e do curador Mario Abbade, jornalista, publicitário e presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro.
NEVILLE D’ALMEIDA
Neville Duarte de Almeida nasceu em Belo Horizonte em 1941, numa família de tradição metodista. Em 1958, ingressou no Centro de Estudos Cinematográficos de Belo Horizonte, passando a conviver com grandes críticos de cinema da época. Em meados da década de 1960, deixa o Brasil e inicia um período em que irá viver entre Londres e Nova Iorque. Durante o período em que viveu em Nova Iorque, conheceu o artista plástico Hélio Oiticica, com quem desenvolveu as obras chamadas por eles de “quasi-cinemas”, projeções de slides que submetem o espectador a experiências multisensoriais. Juntos, criaram a série batizada de Cosmococa, na qual a cocaína contorna o formato do rosto de ícones da cultura pop norte-americana, como Marilyn Monroe, Jimi Hendrix e Yoko Ono, numa alusão, segundo ele costuma dizer: à premonição de que a cocaína iria infestar como um veneno a sociedade norte-americana. De volta ao Brasil, inicia um período em que assinará grandes sucessos de público do cinema nacional, como ‘A Dama do Lotação’, ‘Os Sete Gatinhos’, ‘Rio Babilônia’, misturando temas como a marginalização e as fantasias eróticas. Além de cineasta, Neville D’Almeida escreve livros e ensaios. É autor de ‘Além Cinema’, que mistura documentos, entrevistas e textos com curiosidades de mais de 40 anos de cinema nacional, e o romance ‘A Dama da Internet’. O seu trabalho nas artes plásticas também não parou na ‘Cosmococa’. Recentemente assinou a instalação ‘Tabamazônica’, uma tenda indígena com projeções de imagens gravadas. Na sua filmografia incluem-se títulos como ‘Maksuara – Crepúsculo dos Deuses’ (2005), ‘Hoje é Dia de Rock’ (1999), ‘Navalha na Carne’ (1997), ‘Matou a Família e foi ao Cinema’ (1991), ‘Rio Babilônia’ (1982), ‘Música para Sempre’ (1980, documentário), ‘Os Sete Gatinhos’ (1980), ‘A Dama do Lotação’ (1978), ‘Surucucu Catiripapo’ (1973), ‘Gatos da Noite’ (1972), ‘Mangue Bangue’ (1971), ‘Piranhas do Asfalto’ (1971), e ‘Jardim de Guerra’ (1970). Como ator, pode ser visto em ‘O General’ (2003, de Fábio Carvalho), ‘Sermões – A História de Antônio Vieira’ (1989, de Júlio Bressane), ‘Moon Over Parador’ (1988, comédia de Paul Mazursky), ‘Areias Escaldantes’ (1985, dirigido por Francisco de Paula), ‘Noite’ (1985, de Gilberto Loureiro), ‘Blablablá’ (1975, Andrea Tonacci), ‘Mangue Bangue’ (1971), ‘O Anjo Nasceu’ (1969, de Júlio Bressane), ‘O Bandido da Luz Vermelha’ (1968, de Rogério Sganzerla) e ‘Fome de Amor’ (1968, de Nelson Pereira dos Santos).
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