Em Lousada, a 40 quilómetros do Porto, abriu a Casa-Museu da Imagem Animada. Um espaço museológico inesperado, no meio do campo, por iniciativa privada dos realizadores Abi Feijó e Regina Pessoa, que vivem e trabalham no local. A dupla pretende levar a animação a novos mundos.
JL: Como nasceu uma casa-museu em Lousada?
Abi Feijó: Herdei esta casa, que é demasiado grande quer para as minhas necessidades quer para as minhas posses. Para ficar com a casa tive que fazer uma parceria com uns amigos canadianos, o Norman Roger, que faz bandas sonoras e a Marcia Page, produtora do National Film Board. Eles vivem metade do tempo aqui. A casa é grande, tem uma quinta à volta e eu de agricultura percebo muito pouco, pensámos usar parte da casa para fazer um museu da imagem animada.
Com que espólio?
Com material dos nossos filmes e de trocas feitas com alguns amigos estrangeiros. Temos uma coleção com alguns desenhos importantes, de filmes que chegaram a ganhar a Palma de Ouro em Cannes ou até mesmo um Oscar. Além disso tenho colecionado alguns brinquedos óticos do pré-cinema.
Em que consiste o museu então?
Tem uma parte expositiva, dividida em três grupos: uma sobre o pré-cinema e a sua relação com o mundo de hoje, porque há uma série de artistas que estão a revisitar os brinquedos óticos do século XIX; outra sobre o nosso próprio trabalho; e outra dedicada aos trabalhos estrangeiros. Por outro lado, uma sala polivalente para atividades pedagógicas, oficina, eventualmente uma masterclass ou a projeção de um filme.
Em termos de público, como vai funcionar?
Às vezes as coisas fora dos grandes centros urbanos despertam interesse e é o que gostaria que acontecesse. Tive uma reunião com os agrupamentos escolares de Lousada e estamos a ver que tipo de colaborações poderemos estabelecer, para que as escolas venham fazer visitas e atividades pedagógicas. Como a casa fica perdida no meio do campo… Não há uma ideia de museu aberto com casa cheia. O horário é bastante reduzido, funciona mais por marcação.
Esta casa também é o sítio onde trabalham. Que filmes estão agora a preparar?
Tenho duas produções em mãos. Amélia & Duarte, de Mónica Santos e de Alice Eça Guimarães. Uma coprodução com a Alemanha, filmada aqui na casa. As últimas filmagens foram no mês passado agora está em fase de pixilização. Deverá estar pronto até ao final do ano. Depois, temos a nova curta da Regina Pessoa, Tio Tomás e a Contabilidade dos Dias, que ainda está em fase de revisão sotoryboard.
A animação portuguesa tem grande projeção internacional, mas falta de apoio cá dentro?
No top 10 dos filmes mais vistos, premiados e selecionados da Agência da Curtas Metragem sete são de animação. Isso diz alguma coisa da qualidade da animação nacional. A produção tem sido perturbada pela suspensão dos subsídios. Este filme, Amélia & Duarte, começou por ser uma co-produção França, Canadá e Portugal. Teve um apoio do ICA em 2011. O facto da crise ter congelado as regras fez com que perdesse os coprodutores. Felizmente, consegui encontrar um novo parceiro.
E para quando um novo filme de Abi Feijó?
Não está previsto, tenho muitas coisas para me entreter. Mas pode ser que um dia aconteça.