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Nem o Big Brother vai tão longe. I’m still here, documentário sobre Joaquin Phoenix, é uma exposição porventura gratuita de um ator em crise. É um tipo de filme que, normalmente, apenas passaria na secção Director’s Cut do IndieLisboa, ou a horas tardias no Canal 2, mas a relevância mediática do protagonista levou-a para as salas de cinema. E ainda bem. Casey Afleck, o realizador, conseguiu uma intimidade perversa com o seu cunhado Joaquin Phoenix, que nos levanta questões psíquicas e psicológicas, com a pergunta: o que faz um ator quando faz de si próprio? Uma coisa é certa: em I’m Still Here, Joaquin Phoenix interpreta um dos maiores papéis da sua vida.
Explique-se, para quem não sabe, que Joaquin Phoenix é um dos mais promissores atores da sua geração, foi duas vezes nomeado para os Óscares. Destacou-se com grandes interpretações em filmes como Disposta a Tudo, de Gus Van Sant, em que contracenou com Nicole Kidman; Walk the Line, de James Mangold, em que fez primorosamente de Johnny Cash; ou Duplo Amor, um grande filme de James Gray, que acabou por ser a sua última atuação no cinema. O primeiro grande momento de fama de Joaquin ocorreu pelo motivo mais trágico. Estava ao lado do irmão mais velho, River Phoenix, quando este morreu por overdose. Foi a sua voz, na chamada para a linha de emergência, que se ouviu pelos noticiários do mundo inteiro.
Joaquin não morreu. Apenas, de forma drástica, decidiu deixar de ser ator, para abraçar, imagine-se, uma carreira de rapper. Mas o que realmente aconteceu com o baralhado Joaquin Phoenix é que se tornou numa anedota, numa personagem trágico-cómica, explorada e ridicularizada pelos media de forma transversal. Com este filme, confirma-se a ideia de que a realidade tantas vezes supera a ficção e Phoenix nunca conseguiu, nem conseguirá, construir uma personagem tão elaborada como a que realmente é.
Aqui em causa está um conceito filosófico, amplo e difícil, de verdade. O que os jogadores de futebol chamam de ser igual a si próprio. Terá sido essa busca de identidade, por oposição às inúmeras peles que, por osso do ofício, os atores são obrigados a vestir, que terá levado Joaquin a permitir este documentário. Aceitou o jogo perigoso, numa sociedade de aparências, de se mostrar intimamente. E Casey Affleck, que desta estranha forma se estreia na realização, levou isto para além de todos os limites.
Ao logo de quase dois anos, Joaquin Phoenix foi filmado em todos os seus pecados, taras e manias e intimidades mórbidas. Não há censura, nem balizas. Vemos Joaquin a contratar prostitutas, a snifar coca, a vomitar ou até, para além do imaginável, quando o seu companheiro se vinga dele defecando na sua cara enquanto dorme. Por isso, estamos perante um filme extremo. Um voyeurismo realmente depravado. Contudo, recentemente, Casey Affleck afirmou que se trata de um documentário forjado. Ou que, pelo menos, tem cenas forjadas, como a da defecação. A questão é que, neste particular, não podemos confiar em Casey, porque sabemos nós que muito do que se passa no filme é real, como a cena de pancada no concerto de Miami. Busca-se aqui a verdade da mentira, na esperança de detetar mentiras na verdade. Até porque uma das grandes questões que se levanta é se este abandono de Joaquin Phoenix é real ou será também ele um embuste mediático. Para já fique esta experiência cinematográfica sui generis em que o ator se transcende.