O novo filme de João Pedro Rodrigues, Morrer Como um Homem (nas salas) é um poço de contradições. Mas um poço em que os diferentes elementos não se estatelam em cacos lá em baixo. Eles unem-se numa fusão a pique, lenta como a queda da Alice na toca do coelho. Ao contar as desventuras de Tónia, um travesti lisboeta que envelhece, e dos seus infortúnios amorosos, o realizador parece aproximar-se do imaginário gay almodovariano, para logo o abandonar, seguindo noutras direcções, mais próximas do melodrama, com forte aroma a fado e a um destino traçado, muito português. Tão depressa mergulhamos num universo assumidamente kitsch, com crochés, bibelots, benzeduras e um aquário, como caímos por outro buraco de coelho num ambiente hiper-sofisticado, irrealista, onde umas personagens híbridas e teatrais perseguem gambozinos. O filme baseia-se na história do transformista Ruth Bryden, que, de facto, foi enterrado vestido de homem. Funesto, fadista e surpreendente.
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