Depois dos persas, dos mongóis, dos britânicos e dos soviéticos, os Estados Unidos da América e respetivos aliados foram obrigados a retirar-se, sem honra nem glória, do território onde chegaram há quase duas décadas – com o declarado propósito de acabar com um regime medieval. A presença militar norte-americana em terras afegãs termina agora como começou: com os talibãs a liderarem aquilo a que chamam o Emirado Islâmico do Afeganistão.
Desde que os EUA e demais países da NATO começaram a abandonar as suas bases, no início de maio, o movimento fundamentalista fez novas conquistas e preparou metodicamente a sua instalação em Cabul, a capital, onde governou de forma despótica entre 1996 e 2001.
As forças armadas e de segurança (a par das milícias populares promovidas por Cabul) revelam-se incapazes de contrariar a ofensiva que avançou rapidamente desde 22 de junho, data em que os talibãs se apoderaram – sem oposição – de Shir Khan Bandar, no Norte do país, junto à fronteira com o Tajiquistão, um ponto nevrálgico nas rotas comerciais da Ásia Central. Se há um mês diziam controlar 85% do País, a derrocada final aconteceu em Agosto, com a tomada da capital.
Eis a cronologia dos principais acontecimentos no país nas últimas quatro décadas.
O longo vício da guerra
1979
União Soviética invade o Afeganistão. Principal objetivo: combater os mujahedin (guerrilheiros muçulmanos) apoiados pelos EUA – um deles chama-se Ossama bin Laden – que desafiam o governo comunista de Cabul.
1988
Após nove anos de guerra e 15 mil soldados soviéticos mortos, Moscovo retira as suas tropas, mas mantém o apoio financeiro ao regime afegão.
1992
Os mujahedin entram em Cabul e a guerra civil intensifica-se, devido à rivalidade entre os líderes da guerrilha.
1996
O movimento formado maioritariamente por mujahedin, de etnia pashtun, e por “estudantes” de Teologia, educados nas escolas corânicas paquistanesas, conquista o poder: os talibãs instauram o novo Emirado Islâmico do Afeganistão.
2001
Após os ataques do 11 de Setembro, EUA exigem aos talibãs que entreguem Bin Laden e desmantelem os campos de treino da Al Qaeda. Em vão. Administração Bush avança militarmente. Em dezembro, Bin Laden desaparece nas cavernas de Tora Bora e Hamid Karzai lidera o novo regime.
2003
Bush decreta “missão cumprida” no Afeganistão e desvia as atenções para o Iraque e para as armas de destruição em massa de Saddam Hussein.
2009
Barack Obama, para neutralizar o ressurgimento dos talibãs e da Al Qaeda, reforça o contingente militar norte-americano.
2011
Afeganistão acolhe mais de 125 mil soldados norte-americanos e da NATO. A 1 de maio, Bin Laden é morto em Abbottabad, no Paquistão. No final do ano, os talibãs abrem escritório no Qatar para negociar com os EUA.
2017
Generais norte-americanos informam Donald Trump de que os talibãs controlam novamente um terço do território afegão.
2020
Após dois anos de negociações, a 29 de fevereiro, EUA e os talibãs assinam um acordo para a saída das tropas norte-americanas até 1 de maio de 2021.
2021
A 14 de abril, Joe Biden anuncia a retirada total das tropas norte-americanas até 11 de setembro, mas, na última semana de junho, acelerou o processo. Os outros países da NATO, Portugal incluído, seguiram o exemplo.
A 15 de Agosto, os talibãs tomam Cabul e assumem o governo do país.