Lisboa e Porto a fervilhar de gente, não só portugueses e turistas mas também estrangeiros que se mudaram de armas e bagagens para aqui trabalhar em multinacionais que encontraram em Portugal as condições ideais para fixar os seus centros de competências e serviços partilhados. Este era o cenário, que apesar de agora parecer longínquo, se verificava há um ano quando empresas estrangeiras e também nacionais dinamizavam o mercado de escritórios das duas principais cidades do país. A pandemia e a consequente necessidade de trabalho à distância veio alterar drasticamente esta dinâmica que, em números, se revela em quedas bruscas de área arrendada em edifícios de escritórios.
Segundo o mais recente Office Flashpoint da consultora JLL, os espaços arrendados pelas empresas em Lisboa no mês de fevereiro não foram além dos 9.700 metros de quadrados (m2), uma descida de uns expressivos 72% face a fevereiro do ano passado quando se atingiram os 34.252 m2 de área arrendada.
O mercado do Porto, que nos últimos cinco anos pré-pandemia tão disputado foi pelas multinacionais pelos preços do m2 mais apelativos em relação à capital (e pela facilidade de captação de pessoal qualificado), também se ressentiu de forma significativa com uma absorção de apenas 1.136 m2 no mês passado, menos 86% que no período homólogo quando se arrendou cerca de 8.000 m2 de escritórios. Destaque também para a redução em 67% no número de contratos de arrendamento, em Lisboa, para áreas superiores a 1.000 m2, numa altura em que muitas empresas começam também a decidir como será o futuro a curto prazo num cenário pós-vacinação mas com o tema do teletrabalho em cima da mesa a condicionar as necessidades de ocupação efetiva de espaço.
Uma análise que está a ser feita de forma transversal por todo o mundo. Um dos exemplos mais recentes vem da Nationwide Building Society, instituição financeira britânica e uma das maiores sociedades construtoras do mundo, que na semana passada revelou os resultados da iniciativa que lançou junto dos seus colaboradores para aferir onde e como desejam trabalhar no futuro próximo. Sugestivamente batizada de ‘Work Anywhere’, o inquérito concluiu que 57% , ou seja, mais de metade dos seus 13 mil trabalhadores, avançou que prefere passar a trabalhar sempre a partir de casa mesmo depois da pandemia estar controlada. Cerca de 36% diz que prefere o sistema híbrido entre o escritório e o teletrabalho e uns escassos 6% afirmou desejar o regresso pleno ao escritório nos cinco dias da semana.
“Este último ano aprendemos que é mais importante a forma como desenvolvemos o nosso trabalho do que o local de onde o fazemos. Portanto, nós ouvimos o que nos dizem os nossos colaboradores e decidimos ir em frente”, disse ao jornal ‘The Guardian’ Joe Garner, diretor executivo da empresa. Uma decisão que já teve os seus efeitos – a Nationwide decidiu encerrar três espaços de escritórios em Swindon onde trabalham 3.000 pessoas que serão canalizadas para o teletrabalho ou para a sede da empresa na mesma localidade inglesa, consoante a sua opção.