As linhas vermelhas que António Costa revelou ontem que o País não pode ultrapassar – 120 casos por 100 mil habitantes a 14 dias e um Rt menor de 1 – são muito mais apertadas do que as propostas pelos vários peritos. E implicam que, muito rapidamente, se possa ter de recuar no desconfinamento, pelo menos em algumas regiões. Neste momento, a incidência já está nos 105 e o Rt no continente em 0,78. E, com qualquer abertura, os números não tardarão a subir.
Segundo confirmou à VISÃO fonte do Governo, António Costa tomou a opção de não seguir à risca os especialistas. “Foi uma decisão política”, admitiu a mesmo fonte. Os vários peritos, a quem o Governo solicitou relatórios na última semana, colocaram os mesmos valores na zona verde, mas defendiam que a zona vermelha se situasse nos 240 casos por 100 mil habitantes e num Rt de 1.2.
A opção, diz ainda aquela fonte, foi definir níveis de risco com base nos vários estudos e cruzando todos os dados. Foi assim que surgiu o quadro de cores com as zonas de riscos apresentado pelo primeiro-ministro aos portugueses. Um quadro, admitem fontes governamentais, elaborado por elementos do Executivo.
A verdade é que muitos especialistas ficaram surpreendidos quando viram António Costa apresentar o gráfico quadriculado com níveis de risco muito mais difíceis de gerir, e que podem obrigar a recuos constantes.
Níveis de risco definidos pelo Governo

O quadro é claro. Foram definidos dois fatores decisivos: a incidência de casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias e o Rt. E ao mesmo tempo criadas três zonas: a verde quando a incidência está abaixo dos 120 mil e o RT menor de 1, a amarela, quando um destes elementos ultrapassa estes valores, e a vermelha quando os dois (incidência e RT) estão comulativamente acima daqueles números. Assim, a zona verde significa que podemos avançar no desconfinamento, a zona amarela que tem de se parar e não avançar na fase seguinte, e na zona vermelha que tem de se recuar. No entanto, o recuo não será nacional mas regional.
Ou seja, cada concelho tendo em conta a incidência de casos (o Rt é mais difícil pois não há este valor a nível dos concelhos) será colocado na zona verde, amarela ou vermelha. E os que estiverem na zona mais grave terão de ser alvo de medidas concretas de confinamento.
Assim, apesar de Costa ter apresentando um plano que prevê a abertura de escolas, cabeleireiros, liceus, universidades, teatros, esplanadas, e restaurantes, a concretização real desse plano pode ser muito mais difícil e obrigar a adiar muito do planeado. A única exceção a estes recuos regionais são as escolas. Segundo apurou a VISÃO, os estabelecimentos escolares, mesmo que se situem em concelho que está na zona vermelha, não irão fechar isoladamente, Ou seja, o ensino será sempre uma medida de âmbito nacional. O resto pode ir abrindo e recuando, casos os valores da incidência e do Rt o justifiquem.
Isto tendo em conta as linhas vermelhas escolhidas pelo Primeiro-ministro, que perante os números baixos que se verificam nos últimos tempos, estava a ter dificuldade em justificar um confinamento até à Páscoa, como parecia desejar Marcelo.
Os documentos com estas linhas de alerta feita por vários peritos chegaram às mãos do Governo na última terça-feira. No dia seguinte, António Costa jantou com Marcelo Rebelo de Sousa, que nos dias anteriores, nomeadamente nas audiências com os partidos, não escondeu que defendia um desconfinamento mais tardio ou pelo menos mais cauteloso. E foi essa cautela que hoje Marcelo, em viagem oficial, elogiou no plano apresentado por António Costa. Marcelo sublinhou a “preocupação de conciliar desconfinamento com prudência e precaução”. É “prudente a fazer o equilíbrio porque nunca sabemos o que se passa na circulação das pessoas e do vírus”, disse numa clara alusão aos critérios definidos pelo Primero-ministro.