O homem de Neandertal viveu há aproximadamente 400 mil anos na Europa e na Ásia e é o nosso parente humano extinto mais próximo, com alguns europeus, africanos, americanos e asiáticos a terem mesmo herdado cerca de 2% do seu ADN. Foram descobertos pela primeira vez em 1830, na Bélgica, mas só em 1856 – quando foi encontrado metade de um crânio no Vale de Neander, Alemanha – é que os cientistas perceberam que se tratava de uma espécie humana distinta.
É provavelmente o antepassado humano mais estudado, com milhares de artefactos e esqueletos completos descobertos. Agora, uma nova descoberta, a primeira da espécie em 25 anos, promete reabrir a discussão acerca dos comportamentos destes “homens das cavernas”.
Uma equipa de investigadores do departamento de Arqueologia da Universidade de Cambridge, descobriu as ossadas de um Neandertal na Caverna de Shanidar, no Curdistão Iraquiano. As escavações feitas entre 2016 e 2019 foram progressivamente descobrindo os ossos do tronco, e os da mão direita e esquerda, cerrados e por baixo do crânio, naquilo que parece ser uma posição de repouso.
Há muito que a caverna se tornou uma autêntica fonte de conhecimento do período Paleolítico, depois de Ralph Solecki, um arqueólogo americano, ter descoberto os restos mortais de 10 mulheres, homens e crianças Neandertais nos anos 50. Na altura, as investigações controversas do arqueólogo e da sua equipa concluíram que os restos mortais continham vestígios de pólen, o que sugeria que estes nossos antepassados enterravam os seus mortos com flores nas suas cerimónias fúnebres.
Tal como nas descobertas de Solecki, também os restos mortais do novo esqueleto continham vestígios de plantas. Os investigadores acreditam que Shanidar Z – nome dado pela equipa – foi colocado de barriga para cima, com a cabeça voltada para a esquerda e apoiada na mão. Além disso, os cientistas também estão a usar as ossadas para saber mais sobre a dieta, saúde e género de Shanidar Z.
O novo estudo, publicado na revista científica Antiquity, parece sustentar aquilo que Solicki e a sua equipa defendiam sobre os neandertais – que estes eram capazes de rituais e comportamentos sofisticados, ao contrário da forma animalesca e bruta, com que a espécie é retratada. “ Nos últimos anos, demonstrámos que os neandertais eram mais sofisticados do que se pensava, desde marcas nas cavernas até ao uso de conchas e garras de aves de rapinar para decoração”, disse Emma Pomeroy, coautora do estudo, à CNN. “Se os Neandertais usavam a Caverna de Shanidar, de forma contínua, como um local de homenagem e enterro dos seus mortos, isso sugere uma complexidade cultural de grau elevado”, conclui.