Estamos sinceramente convencidos que a quietude desta terra tem gerado o efeito contrário ao seu exterior.
Neste constante faz que mexe mas não mexe, as pessoas mudam de lugar, umas saem, outras são promovidas, mas no essencial fica tudo mais ou menos na mesma, as políticas permaneceme a terra nem sequer estremece...
Nesta bem estruturada falta de estrutura somos não só sui generis como sobretudo exemplares, se atentarmos que a nossa ancestral tendência para a asneira se tornou numa arte maior.
Fazendo jus à arte, os nossos artistas não se cansam de praticar o quotidiano ensaio, levando a sério a preparação para os espectáculos com que nos brindam amiúde, pouco importando se ficamos indiferentes, aplaudimos de pé ou damos pateada.
Pensando finalmente ter descoberto o rumo certo, caminhamos enganosamente em círculos e, quando já estafados da caminhada nos apercebemos do erro cometido, quedamo-nos à espera que passe a crise, até porque a cabeça ficou toldada com tantas voltas.
É deste modo que enfrentamos as nossas (dis) funções, que praticamos o nosso desígnio, à mistura com auto convencimentos de que tudo sabemos e tudo podemos.
Entretanto, nos tempos de pausa laboral, entre duas bicas e um pastel de nata certificado, dá-se largas ao mau estar interiorizado destilando-se fel e vinagre, aponta-se o dedo a administrações públicas e privadas, incriminam-se os partidos e o regabofe dos tachos, deita-se abaixo o governo e dá-se uma grande vassourada na poeira assente no parlamento e autarquias. Vai tudo raso, na idílica presunção que o eu de cada um saberia pôr o País na (sua) ordem e viver numa imaculada e parasidíaca república.
Finda a pausa e aliviada a tensão incomodativa, eis que estamos prontos para continuar a jornada de trabalho e arrostar com todo o infindável rol de dislates envolventes, manta imensa e profusamente mesclada que, a pretexto de nos acobertar o emprego e a vidinha, nos atabafa e quase sufoca.
E desta maneira vamos alimentando a (des) esperança de melhores dias, que, longe de assomarem no horizonte, cada vez mais se anicham no nosso imaginário.
De quem é a culpa?
Não faltam candidatos para responder à pergunta - cada um com a sua resposta - mas todos têm em comum a certeza que a culpa é sempre dos outros, ou não fossemos nós os espertugueses.
Para nós fica a desagradável sensação, carregada de irónica quase certeza - neste tempo em que os casamentos estão a ser e a durar cada vez menos - de a culpa correr o risco, mais do que nunca, vir a morrer solteira. A menos que...
A menos que a realidade suba àquele canto do cérebro onde as ordens se transformam e assumem novas formas. Aí cessam os desabafos de café e a energia neles descarregada é aplicada no dizer às pessoas certas no momento certo do que somos capazes.
Até lá resta-nos, de braço dado com o tempo, esperar... e não desesperar, continuando a arcar com impostos sem as correspondentes contrapartidas, com sorridentes hipocrisias, com super vigilâncias mal direccionadas, com laxismo de patrões e empregados, com uma sociedade abusadora e abusada que herdámos deficiente, e deficiente vamos legar aos vindouros se um dia não nos assumirmos como os indivíduos excelentes que nos dizem que somos.
Tardamos em encontrar a cidadania que nos propagandeiam do alto de telhados de vidro, sujeitos a quebrar a qualquer momento sob o peso de indivíduos que para lá treparam às costas e às custas de muitos outros.
Quando ela (a cidadania) chegar já muita água se desperdiçou e podemos ir tranquilamente a pé pelo leito dos rios a caminho do mar que, por ser imenso, talvez ainda não tenha secado.
Para além de toda uma História que teimamos em não aproveitar memória, hoje, ser português significa sobreviver em paz dormente, na dúvida latente de implodir ou explodir.
É a (in) quietude nacional!