O ano é 1913. Arthur Wynne (1871-1945) é um inglês nascido em Liverpool, que se muda para os Estados Unidos com 20 anos e, na edição de domingo de 21 de dezembro desse ano, publica no New York World, na secção chamada Fun, um jogo de palavras-cruzadas em forma de diamante – reza a história que para preencher um vazio da página. Mas provavelmente este último detalhe trata-se de um mito, já que o seu trabalho consistia realmente em encontrar puzzles e jogos para entreter os leitores. A ideia não nasceu do zero: consta que Wynne se inspirou num jogo de sociedade da época vitoriana, que costumava jogar com o seu avô, chamado magic square (quadrado mágico). O passatempo publicado recebeu o nome de Word-Cross Puzzle e, semanas depois, um erro tipográfico fez com que o jogo saísse com o nome ao contrário, ‘Cross-Word’, palavra que vigorou até aos dias de hoje.
Recuando no tempo, sabe-se que já os romanos tinham passatempos semelhantes, com a construção de palíndromos, isto é, palavras que são iguais quando lidas de trás para a frente, e de outras combinações de vocábulos para ler na horizontal e vertical. Também em Inglaterra, no século XIX, um jogo semelhante ao dos romanos, seria prática entre brincadeiras infantis. O que fez Arthur Wynne foi transformá-lo num jogo para adultos.

Em 1921, Margaret Petherbridge, nova editora das palavras-cruzadas do New York World – curiosidade: o jornal durou até 1931 e pertenceu, a partir de 1883, à família Pulitzer – mudou a forma como as pistas eram apresentadas, passando a incluir uma numeração semelhante à utilizada hoje (até então, a numeração existia no início e final de cada linha). Três anos depois, as pistas passaram a aparecer separadas em verticais e horizontais, pela mesma altura em que atravessaram o oceano e começaram também a sair nos jornais ingleses, tendo sido o The Sunday Express o primeiro a adotar o jogo tão em voga nos Estados Unidos. 1924 é também o ano em que a editora Simon & Schuster publica o primeiro livro exclusivo de palavras-cruzadas, tornando-se um autêntico bestseller.
Finalmente, notar que um dos jornais nova-iorquinos que tem hoje das palavras-cruzadas mais populares entre os leitores, o The New York Times, foi dos últimos grandes jornais norte-americanos a seguir a tendência, por considerá-la uma distração. Lançou o primeiro puzzle apenas a 15 de fevereiro de 1942, escreve a revista Time, dois meses depois do ataque japonês à base naval de Pearl Harbor. “De repente, o puzzle já não era uma distração frívola, mas uma diversão necessária, algo para manter os leitores sãos, com o resto das notícias tão sombrias”, lê-se no mesmo artigo.
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