Percebes
Percebes frios ou a ferver, acabados de sair da panela? As opiniões dividem-se, cada casa os apresenta à sua maneira e o cliente pode sempre perguntar de antemão o que lhe vai aparecer na travessa – a escaldar, com umas pedras de gelo no topo, prefere esta que vos escreve. Independentemente da temperatura, importante é encontrá-los com qualidade, vindos de mares frios e batidos. Ora no caso deste bicho de aspeto curioso, dedicámo-nos apenas a restaurantes do centro e sul. O arranque faz-se à mesa de um clássico, o Búzio (Avenida Eugene Levy, 56, Sintra), na Praia das Maçãs, com percebes da zona, sempre fresquíssimos. Segunda paragem: O Rodinhas (Rua Marquês de Pombal, 25), no coração de Sesimbra, uma marisqueira despretensiosa onde se fala alto, se bebem imperiais frescas e se prova bom marisco – percebes incluídos, claro. Descendo até ao Alentejo, pode fazer-se uma paragem n’ O Beicinho (Rua Jacinto Virgínio, 9), em Sines, que tem sempre percebes de qualidade, para combinar numa degustação com saladinhas frias; ou então rumar ainda mais para sul, até à Longueira e parar numa já instituição chamada O Josué (Rua José António Gonçalves, 87), já famosa pelos deliciosos exemplares da espécie que ali são vendidos, a fazerem a caminha para um sargo, robalo ou dourada da costa, servidos à alentejana, isto é, com alho picado e azeite. Já no Algarve, duas paragens na costa onde o mar é mais frio. O Paulo (Arrifana, junto à fortaleza), um restaurante dito mais chique, mas sempre com peixe e marisco frescos, uma boa sopa de peixe e uma vista de encher o olho. Já em Vila do Bispo, que terá precisamente a 9ª edição do Festival do Perceve entre os dias 1 e 3 de setembro, podem comer-se uns bons percebes na Ribeira do Poço (Rua Ribeira do Poço, 11). A fila nesta época é grande, mas compensa a espera.
Amêijoas
As Amêijoas à Bulhão Pato são um prato bem lisboeta, nascido na Rua da Prata, num estabelecimento frequentado pelo escritor e gastrónomo Raimundo António de Bulhão Pato (1828-1912), um apreciador destes bivalves cozinhados de forma rápida e simples, com gordura, sumo de limão e coentros. Curiosidade: o vinho branco usado em vários restaurantes como tempero é uma junção mais recente à receita clássica. Ora o prato não exige grande sabedoria na confeção, mas é certo que encontrar boas amêijoas para cozinhar em casa já não será tão fácil; e por outro lado, as torradas das marisqueiras e cervejarias são, na maioria das vezes, imbatíveis. Onde comer boas amêijoas? A viagem arranca em Lisboa, com dois nomes de peso. Um deles o incontornável Pinóquio (Praça dos Restauradores, 79-80), agora numa versão mais moderna, mas que mantém um menu clássico onde não faltam as amêijoas à Bulhão Pato, feitas na cafeteira (sim, sim, a do leite), com uns pingos de mostarda; o outro, um novato que já mostrou qualidade na matéria-prima e confeção, o Lota d’Ávila (Av. Duque d’Ávila, 42B), uma marisqueira moderna, que traz algumas receitas criativas feitas com marisco e peixe, mas serve também as versões tradicionais, ora ao balcão, ora numa sala cheia de luz [nota: é a montra da casa que ilustra acima esta peça]. Em Cascais, em vários restaurantes da estrada do Guincho se servem boas amêijoas, mas a assinalar um deles, escolhemos o Mar do Inferno (Avenida Rei Humberto II de Itália), mais conhecido pelos locais como ‘Lourdes’ que serve bons exemplares de bivalves na receita tradicional. Próxima paragem: Sesimbra, restaurante Filipe (Largo da Marinha, 15), um porto seguro para comer peixe e marisco, de portas abertas há quase 40 anos, com as amêijoas a serem a escolha acertada para uma refeição que pode seguir pelo espadarte com molho de crustáceos ou o arroz de marisco com lagosta. O destino seguinte é o restaurante Sal (Praia do Carvalhal), na Comporta, que este ano trocou os areais da Praia do Pego pelos do Carvalhal. O menu tem novidades, exemplo das saladas frescas, mas mantêm-se na carta as amêijoas à Bulhão Pato e as lulinhas. Na costa sul do país, na Luz de Tavira, Os Fialhos (Parque Natural da Ria Formosa, EM1339 1090E) é um dos segredos mais mal guardados para apreciadores de boa cozinha portuguesa. Comece-se pelas amêijoas e siga-se depois viagem pelos peixes na grelha ou os arrozes de peixe e marisco.
Camarões
Cozidos com sal? À guilho? Com gotas de limão? Com maionese? Em boa verdade, se a matéria-prima for boa, sabem bem de qualquer forma. Até numa receita de açorda, como a que é servida na Esplanada Marisqueira A Antiga (Rua Roberto Ivens, 628), em Matosinhos, um dos melhores pratos da casa. Também as pode pedir ao natural, sejam os camarões da costa, sejam os de tamanho maior, os aqui chamados ‘gigantes’, também com uma receita de confeção própria. Descendo até à Nazaré (Rua Adrião Batalha, 54), sugerimos A Tasquinha é um restaurante típico de peixe e marisco, com pratos da especialidade, servidos com simplicidade e muito sabor, entre eles o camarão frito à Tasquinha. Viajando pela costa, paragem num dos melhores restaurantes da Ericeira para uma mariscada: Mar à Vista (Rua de Santo António, 16). Vale a pena usar a matemática para chegar a tempo do pôr do sol, que será acompanhado por boas gambas ao natural ou na receita al ajillo. Este mesmíssimo prato é uma das estrelas de uma casa lisboeta que não poderia faltar nesta lista, o Ramiro (Avenida Almirante Reis, 1H). O trio amêijoas, percebes e camarões na frigideira com alho é obrigatório, assim como uma casca de sapateira e no final um preguinho. Rumo ao Algarve, o Rui (Rua Comendador Vilarinho, 27), em Silves, é um nome impossível de fugir para quem gosta de uma boa mariscada. No que aos camarões diz respeito, tem diversas espécies (médio, tigre, carabineiro, da costa), desde o cozido ao grelhado ou frito com alho. Finalmente, também no Algarve, mas em Olhão, o Primo dos Caracóis (EN125, Quatrim Sul) é um restaurante de beira de estrada com muitíssima qualidade. Tem caracóis, claro está, canilhas, conquilhas, amêijoas, ovas de choco, lagostim e camarão cozido ou frito, vendido ao quilo.