Ode ao ócio
Escrevo este texto a contar os minutos para ir enfiar-me de molho. Não é um molho qualquer: é um “banho-mafalda” nas águas doces e plácidas da Albufeira da Barragem de Castelo de Bode, um daqueles paraísos nacionais que mantêm uma pacatez admirável, tendo em conta a beleza estonteante da região.
Calculo, com ansiedade, o tempo que me separa desta secretária e o ócio. Esquecer-me voluntariamente do telemóvel dentro de casa, desligar as notificações dos WhatsApps e das notícias e deixar-me passar ao lado do que se passa no resto do mundo, exceção feita à temperatura da água, à profundidade junto às margens, ao que vou comer durante todo o dia e onde vou dormir a sesta.
Vou de fim de semana para não fazer nada. E não fazer nada é uma daquelas ocupações manifestamente subvalorizadas. Não fazer nada vale ouro. E, ao contrário do que a tradição judaico-cristã nos impingiu como máxima, sobrevalorizando o trabalho como salvação, o ócio pode ser extremamente criativo. Nos momentos de pausa, folga ou repouso, temos grandes ideias, pensamos em grandes coisas, sonhamos com grandes obras. A ociosidade é a mãe da filosofia, dizia Thomas Hobbes. Está estudado que os espíritos criativos precisam de pausar para ter ideias. Desligar, deixar-se levar pelo apenas aparente vazio.
Com as férias à porta, aproveitemos o tempo de pausa, apreciemos o simples estar. E valorizemos cada minuto assim, com a cabeça leve, nestes dias de turbilhão de solicitações, inquietações e sobressaltos permanentes. Venham de lá as pausas e as ociosas férias. Precisamos delas como de pão para a boca.
Editorial da PRIMA 21
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