Toyota, a marca pioneira nas baixas emissões e na eletrificação, através das motorizações híbridas, mas que muitos têm criticado pela falta de entusiasmo com os 100% elétricos. Atualmente, a marca nipónica só comercializa um 100% elétrico, o SUV bZ4X. Pouco para o que é, cada vez mais, o maior fabricante do mundo de automóveis. Aliás, durante o fórum Kenshiki, que decorreu em Bruxelas, ficou claro que os executivos da Toyota consideram que esta política mais cautelosa na eletrificação não tem afetado o negócio da marca na Europa. Pelo contrário, já que os números demonstram um crescimento forte e comparam-se muito bem com os números do grupo que normalmente compete com a Toyota pelo título de ‘maior do mundo’, a Volkswagen, que tem reduzido a produção.
Mas apesar de ter chegado tarde aos 100% elétricos a bateria (BEV), a Toyota garante que vai chegar em força e apresentou à imprensa europeia, incluindo a Exame Informática, as versões conceptuais dos seus futuros 100% elétricos.
Lexus, a caminho da eletrificação total
A Lexus, a marca de luxo do grupo Toyota, será a marca bandeira do grupo no que toca à eletrificação. Isto porque todos os novos Lexus vendidos na Europa deverão ser 100% elétricos até 2030. “Deverão” porque a promessa está associada a um ‘mas’: “se as condições do mercado o permitirem”. Uma transformação energética que, garante a marca, será feita de modo a “reinventar o prazer de condução”. O que será assegurado através de uma nova de projetar e produzir os carros, incluindo novas plataformas. Neste método de produção serão usadas técnicas como o gigacasting (grandes moldes, que permitem produzir peças de maior dimensão) para reduzir custos, aumentar a polivalência dos designs e melhorar a dinâmica.
Esta mudança de base na marca estará associada a outra transformação não menos importante, que dará ao software o papel principal no carro. Isto em todas as fases de desenvolvimento, produção e, claro, utilização. Neste último aspeto, destaque para o Sistema Operativo Arene. Um SO que permitirá adaptar e alterar o comportamento da viatura em função de um grande número de parâmetros. Segundo os representantes da marca, será possível, por exemplo, descarregar e aplicar perfis de condução que modificam por completo o comportamento do carro. “Será como ter um novo carro, não estamos só a falar do infoentretimento, mas da forma como o carro se comporta”, assegurou um dos responsáveis da marca à Exame Informática. A direção steer-by-wire, que elimina elementos mecânicos entre a direção e a roda, será outro fator importante para reforçar a liberdade criativa dos designers e engenheiros, bem como aumentar as possibilidades de personalização.
O LF-ZC (Lexus Future Zero-emission Catalyst), que fez a sua estreia europeia no evento Kenshiki, demonstra muitos dos conceitos referidos. Este protótipo dará origem um novo sedan de produção em série com lançamento previsto para 2026. O design, nomeadamente como os volumes estão distribuídos, demonstra bem como este é um carro criado de origem para ser 100% elétrico: uma relação muito favorável entre espaço interior e dimensão exterior, graças a um capô curto, apesar de ter linhas muito desportivas.
O interior é muito espaçoso, com fundo totalmente plano e sem elementos a separar os bancos. Além do gigantesco ecrã central, mais focado no entretenimento, há um longo ecrã informativo em toda a linha que separa o tablier do para-brisas e dois pequenos ecrãs, um de cada lado do volante em formato de yoke.
Há vários painéis táteis, em que os botões virtuais só surgem quando aproximamos as mãos, como é o caso dos botões colocados no módulo entre os bancos da frente. Botões que podem assumir diferentes funções de acordo com o contexto ou perfil de condução ou das preferências do condutor.
Hilux a hidrogénio
A Toyota continua apostada em desenvolver todo o tipo de motorizações, desde motores de combustão tradicionais aos 100% elétricos, passando, é claro, pelo hidrogénio. Aliás, nesta edição do fórum Kenshiki foi apresentada uma pickup Hilux adaptada para usar célula de combustível a hidrogénio. Um conceito que poderá originar uma versão comercial, já que a marca acredita que esta tecnologia tem vantagens importantes para veículos de trabalho, como o carregamento rápido e a grande autonomia. Quando confrontámos Thiebault Paquet, líder da área de negócio da célula de combustível da Toyota, com o facto de já existirem pickups 100% elétricas com autonomias semelhantes, mais espaço útil (o sistema de célula de combustível ocupa muito espaço), mais potência e até velocidades de carregamento próximas, Paquet apontou uma outra vantagem do sistema de célula de combustível: a fiabilidade e durabilidade. Para este responsável, os BEV (carros 100% elétricos baseados em bateria) não permitem carregamentos ultrarrápidos constantes (vários ao longo do dia), exigido por alguns perfis de utilização intensiva, sem uma degradação excessiva da capacidade da bateria. Perfis de utilização que, para este responsável, ganharão com a solução hidrogénio.
Visita do futuro
Ao contrário do Lexus LF-ZC, a maioria dos protótipos da Toyota ainda não tinham interior para mostrar. Apenas o design exterior, que tem por base a mais recente linguagem visual da Toyota visível, por exemplo, no novo Prius. Serão seis os 100% elétricos que a Toyota vai comercializar até 2026. Além do bZ4X, já disponível, e do Compact SUV Concept, apresentado no fórum do ano passado, a Toyota apresentou mais dois veículos: o Urban SUV Concept e o Sport Crossover Concept.
De acordo com a marca, o Urban SUV Concept está próximo da produção em série. Estará disponível com duas capacidades de bateria e tração frontal ou integral. Esta última variante reforça o conceito de SUV.
Quanto ao Sport Crossover Concept, apresenta um design híbrido, um género de mistura entre um desportivo e um SUV. É verdade que este conceito está longe de ser novo, mas parece-nos que a Toyota elevou esta ideia a um outro nível. O carro tem, mesmo, um look desportivo apesar de ter uma elevada altura ao solo. Recorde-se que este protótipo, já apresentado no salão Auto Shanghai em abril deste ano, foi desenvolvido para os mercados chinês e europeu pela BYD Toyota EV Technology Co., uma parceria criada na China pela Toyota e pela BYD.
Novas tecnologias de baterias em 2026
A Toyota aproveitou o fórum Kenshiki para, uma vez mais, mencionar o desenvolvimento de novos tipos de baterias. A marca garante que estas tecnologias “mudarão a forma como os veículos são desenvolvidos, fabricados e utilizados”, adicionando que “irão assegurar que a mobilidade sem emissões seja económica e acessível, fiel ao seu compromisso de proporcionar uma mobilidade sustentável para todos, sem excluir ninguém”.
A primeira bateria de nova geração da Toyota apresentará o que se pode considerar uma estrutura convencional, mas com muito maior densidade. Ao ponto de o fabricante esperar que esta bateria seja, quando comparada com a bateria usada no atual bZ4X , capaz de apresentar o dobro de autonomia e um custo de produção 20% inferior.
Depois surgirá a bateria que prometer tornar os elétricos bem mais acessíveis. Baseada na química de ferro-lítio (LFP), já muito usada nos elétricos de menor custo, a futura bateria terá um novo formato com uma estrutura bipolar. A expectativa é, novamente quando comparada com a atual bateria do bZ4X, baixar os custos em 40% e aumentar a autonomia em 20%.
Relativamente às baterias de estado sólido, Andrea Carlucci afirmou “conseguimos um avanço tecnológico que supera o desafio de longa data da durabilidade das baterias de estado sólido”, adicionado que o processo de fabrico em série “está a ser desenvolvido e estamos a esforçar-nos para conseguir iniciar a sua comercialização em 2027-2028”.
Toyota FT-Se: fazer sonhar
Entre os vários protótipos apresentados no fórum Kenshiki, foi o Toyota FT-Se concept que mais olhares atraiu. Este conceito representa o futuro da mobilidade elétrica desportiva da marca. Com o prazer de condução a assumir o papel principal. Ao contrário do habitual em 100% elétricos, o FT-Se é mesmo muito baixo (1,22 metros de altura), com uma silhueta que estamos mais habituados a ver em superdesportivos com motor a gasolina.
No interior, o cockpit apresenta um painel totalmente digital numa posição baixa para dar prioridade à visibilidade do condutor. Há apoios almofadados para proteger os joelhos do condutor e do passageiro nas curvas apertadas.
A própria Toyota admite que o FT-Se dificilmente seria produzido com a tecnologia atual. Isto porque o pouco espaço disponível exige baterias mais compactas e com maior densidade energética, bem como miniaturização de praticamente todos os sistemas, incluindo motor, transmissão e climatização. Tecnologias que a Toyota estará a aprimorar para se tornarem realidade nos próximos anos.
Na perspetiva do foco no software, o FT-Se poderá continuar a evoluir através de atualizações contínuas, ao mesmo tempo que pretenderá refletir o estilo de vida e os valores individuais do seu condutor através da personalização e de funções de conveniência para uma utilização tranquila. A Toyota acredita que a mobilidade futura irá para lá do fornecimento de ferramentas de transporte físico, tornando-se um parceiro de estilo de vida.