A Refactory da Renault fica em Flins, no norte de França, junto a Paris. Está integrada numa unidade industrial histórica para a marca francesa, onde já foram produzidos cerca de 20 modelos, incluindo os icónicos Renault 4 e 5. Mas a Refactory é muito mais recente, já que começou a trabalhar em setembro do ano passado. Nestas instalações aplicam-se quatro ‘Rs’: Re-trofi (recondicionar automóveis), Re-energy (centro de reparação e de reutilização de baterias), Re-cyle (reciclagem), e Re-start (reutilização e transformação). De acordo com a informação apresentada aos jornalistas, cerca de 12 mil automóveis já foram recondicionados na Refactory. Carros que, garantem os responsáveis da fábrica, ‘ficam como novos’ no sentido em que o processo de controlo de qualidade é semelhante ao aplicado na produção de carros novos.
Na componente Re-energy, foi dado o exemplo da construção de sistemas de acumulação de energia com recurso a células retiradas de baterias da primeira geração de elétricos da Nissan, incluindo os Zoe. Sistemas, denominados Betterpack, que vão começar a ser comercializados nos próximos tempos e que deverão ter um custo mais baixo que acumuladores equivalentes construídos com células novas. No Re-start são usadas, por exemplo, impressoras 3D para criar peças e protótipos (terão sido fabricantes mais de 24 mil peças deste modo) e já foram recondicionados mais de 100 robôs industriais retirados de linha de produção. Finalmente, na componente Re-cycle, os subsistemas dos carros, incluindo baterias, podem ser desmantelados de modo a separar os materiais e facilitar o processo de reciclagem.
Emissões negativas
Mas há muitas outras atividades na Refactory criadas para ajudar a Renault a atingir o objetivo das emissões negativas em 2030. Ou seja, a Renault pretende emitir menos emissões de CO2 que aquelas que, de uma forma ou de outra, recupera. Na Refactory trabalha-se na conversão de veículos comercias ligeiros com motor de combustão para veículos elétricos. Um processo que a Renault está a realizar em parceria com uma startup, a Phoenix Mobility. Aliás, os responsáveis da Renault sublinharam a importância de a Refactory estar aberta a parceiros externos, algo que a marca francesa considera fundamental para atingir os objetivos propostos.
Outro exemplo é a produção e armazenamento de energias referidas como verdes. São usadas baterias retiradas de veículos elétricos para criar ‘armazéns’ energéticos em contentores, criados para estabilizar a rede elétrica e reduzir a dependência de fontes não renováveis. Na própria fábrica como prova de conceito, mas o objetivo é que cada vez mais operadores de redes elétricas utilizem estes sistemas. Cada contentor tem a capacidade de 1 MWh.
O hidrogénio não foi esquecido. As instalações de Flins têm uma capacidade anunciada para produzir 1000 células de combustível por ano e foi instalada a capacidade de produção de hidrogénio verde (usando fontes de energia consideradas verdes).
Uma nova forma de produzir e usar carros
A Refactory ainda pode estar a dar os primeiros passos, mas os conceitos experimentados em Flins deverão ser aplicados em outras unidades industriais da Renault. Falou-se, inclusivamente de Portugal – a Renault tem uma fábrica em Cacia, Aveiro. Os responsáveis da Renault não quiseram adiantar pormenores, mas Portugal foi um dos três países mencionados para a implementação de conceitos de economia circular.
Como referido, um dos objetivos da Refactory é aumentar significativamente a vida dos veículos, através de processos de recondicionamento que poderão não se limitar apenas a recuperar o veículo para um estado próximo do original. A Renault acredita que os carros poderão ganhar uma segunda vida através de recondicionamentos que podem atualizar vários dos sistemas. Ou seja, após recondicionado, o veículo poderá ter várias melhorias relativamente ao que era quando saiu da fábrica. Em aspetos como tecnologia, segurança e, até, motorização.
Em resposta à Exame Informática os responsáveis da Renault confirmaram o objetivo de desenvolver novos modelos de comercialização dos veículos, que poderão incluir a recompra dos carros aos clientes para que possam ser recondicionados e recolocados no mercado. O que deverá aumentar o valor residual dos veículos e, em consequência, reduzir os custos de utilização para os clientes.