A Exame Informática particiou na primeira prova do Campeonato de Portugal de Novas Energias Prio. Mais que os objetivos desportivos, quisemos verificar o comportamento do Peugeot e-208 GT em condições particularmente exigentes.
Tratando-se de um rali de regularidade, há a tendência para se pensar que o comportamento do carro é pouco importante. Desengane-se. É verdade que as velocidades médias praticadas nesta prova foram, como é habitual, baixas. Mas manter uma velocidade média de, por exemplo, 50 km/h, em estradas sinuosas de montanha pode significar que as curvas têm de ser feitas nos limites. Até porque há que compensar atrasos ou erros de navegação – há muitas ‘armadilhas’, o que conduz a falhas que podem significar ter de acelerar muito além do recomendável para tentar recuperar o tempo perdido.
Para quem não conhece ralis de regularidade, nestas provas há que cumprir médias e/ou passar em determinados pontos à hora marcada de acordo com roadbook. A cada segundo de atraso ou de avanço no ponto verificado corresponde a um ponto de penalização, o que significa que ganha quem menos pontos somar após todas as provas especiais de classificação.
Esta arquitetura também leva a que seja importante usar um carro que reaja bem aos nossos comandos, sobretudo ao acelerador. Por exemplo, quando o navegador indica que temos de passar junto a um marco de estrada daqui a 2 segundos e o condutor deteta o marco a 100 metros, há que acelerar ao máximo para tentar chegar no tempo a esse marcador ou, pelo menos, chegar o menos atrasado possível. As equipas com pilotos e navegadores experientes, que participam em muitas provas de regularidade, normalmente de clássicos, já fazem este controlo de distâncias e de velocidade intuitivamente… Mas para amadores, como é o nosso caso, é preciso, muitas vezes, ‘correr atrás do prejuízo’, o que só torna o carro ainda mais importante.
Eficiência
Nesta primeira prova do campeonato, foram feitos mais de 245 km, incluindo 153 km em troços de ligação e 92 km em provas especiais de classificação. Há ainda que contar com mais de 600 km de viagem de ida e regresso (Oeiras – Vila Nova de Gaia) e com outras deslocações. No total, fizemos cerca de 1000 km ao volante do e-208 GT durante três dias, o que nos permite tirar conclusões bem fundadas.
Comecemos pelos consumos, que incluíram viagens de autoestrada com ar condicionado ligado, duas pessoas e mala cheia. Nestas condições, a autonomia prática permitida pela bateria, com 45 kWh de capacidade útil, é de uns 220/240 km, porque nunca queremos chegar ao posto com 0%. Saímos com a bateria carregada e optámos por arriscar um pouco e carregar apenas em Mealhada, uma das estações da A1 com posto de carregamento ultrarrápido, 230 km após a partida.
Naturalmente, recorremos à app Miio para garantir a operacionalidade dos postos, já que estávamos a arriscar – não seria necessário fazê-lo porque todas as estações da A1 já têm postos de carregamento. Como abusámos da distância, na segunda parte desta primeira etapa baixámos um pouco a velocidade média (de 110/120 km/h para 100 km/h). Chegámos à estação de serviço com cerca de 25 km de automia restante. Como o e-208 suporta uma potência máxima de carregamento de 101 kW, bastaram 25 minutos para voltarmos a ter cerca de 200 km de autonomia, mais que suficiente para os cerca de 100 km que faltavam para o destino. Podíamos, portanto, ter ficado menos tempo a carregar, mas o carro teve ‘de esperar’ pelo condutor e pelo navegador, que também precisavam de recuperar energia.
No total, fizemos a viagem de 320 km em pouco mais 4h, mas poderia ter sido menos com uma melhor gestão da velocidade e dos carregamentos. Consumo nestas condições? Cerca de 17,5 kWh/100 km, um dos melhores valores que já medimos neste tipo de condução – semelhante ao que registámos num Hyundai Kauai Electric 64 kWh, uma referência neste aspeto.
Além da prova principal, de regularidade, Gaia Eco Rally também realizou uma prova paralela, de eficiência, que assentou na média de consumos do primeiro dia, que foi depois comparada com a média oficial WLTP. Confessámos que não fizemos qualquer esforço para ‘trabalhar para a média’. Pelo contrário, fizemos troços de ligação a velocidades acima do que seria necessário e recorremos muito ao ar condicionado – foi um fim de semana bem quente. Pelo que ficámos agradavelmente surpreendidos pela sétima posição neste ‘troféu’, com uma média de 15,095 kWh/100 km, um desvio de 1,14 kWh/100 km relativamente aos 13,3 kWh/100 km do registo WLTP (ciclo combinado). O que só veio reforçar a eficiência do e-208.
Mas o melhor é mesmo…
A dinâmica. Reforçámos a nossa primeira opinião, quando testámos o e-208 logo após o lançamento: este é um dos elétricos mais giros de conduzir e, talvez ainda mais importante, o mais previsível e fácil de controlar.
O facto de ser bem mais leve e compacto que a maioria dos elétricos ajuda muito, mas há que valorizar o trabalho, já afamado, dos engenheiros da Peugeot. Sentimos muita segurança, mesmo num dos troços onde as curvas apertadas tinham muitas vezes areia. O carro nunca ‘se vira contra o dono’, nem demonstra tendências dominares para sobreviragem ou subviragem. E quando escorrega, é fácil de repô-lo na trajetória correta. É daqueles carros que nos fazem ficar orgulhos e dizer para dentro ‘eh pá, sou mesmo bom nisto’… quando, na verdade, é o carro que faz o trabalho difícil.
De outro modo, é muito fácil sentirmos quais são os limites sem corrermos riscos. E aquele volante pequenino e direto torna tudo ainda mais divertido. Já agora, a arquitetura do painel de instrumentos, colocado acima do volante, nunca nos convenceu muito… Até percebermos as vantagens na prova, já que é preciso estar constantemente a controlar a velocidade.
O mais adequado
Numa prova onde participaram vários Tesla, um BMW i4, um Kia EV6 e até um Porsche Taycan 4, todos carros que, naturalmente, opertencem a categorias completamente diferentes, estamos convencidos que nenhum dos referidos é tão bom quanto o e-208 neste tipo de competição. Por ser pequeno e ágil, deu-nos vantagens evidentes nos traçados sinuosos, muitas vezes com largura apenas q.b. para passar um carro. Estamos convencidos que teríamos conseguido um melhor resultado se existissem ainda mais classificativas com este tipo de traçado. Ainda assim, ficámos num honroso sexto lugar entre as 19 equipas que concluíram o rally. E à nossa frente não ficou nenhuma equipa com o nosso grau de inexperiência, apenas equipas com condutores e/ou navegadores ‘profissionais’ nestas lides. Ficámos (ainda) mais fãs do e-208. Que diversão!