Durante a apresentação do novo C40 Recharge, o segundo 100% elétrico da Volvo, a marca sueca reforçou a aposta na tecnologia e na eletrificação. De acordo com os responsáveis da empresa, a partir de 2030 todos os Volvo serão elétricos. O C40 Recharge implementa ainda outras tendências que a marca aponta para o futuro, como a venda exclusivamente online e a utilização de um sistema de infoentretenimento Android. No C40 Recharge, será possível instalar apps do mesmo modo que fazemos com qualquer smartphone e o utilizador terá acesso a serviços digitais como o Assistente Google, para interação com voz, e o Maps para a navegação. Como publicado no site da Exame Informática, onde pode conhecer o C40 Recharge em pormenor, a conectividade via redes móveis vem integrada de origem e também vai permitir atualizações remotas.
Artigo originalmente publicado na Exame Informática Semanal 184 (5 de março de 2021)
No dia em que a Volvo revelou em o C40 Recharge ao mundo, tivemos a oportunidade de falar, via videoconferência, com Henrik Green, o Chief Technology Officer da Volvo Cars.
O C40 Recharge é apenas o segundo Volvo 100% elétrico e o primeiro, o XC40 Recharge, ainda tem disponibilidade limitada. Não acha que a Volvo está atrasada na eletrificação?
Tenho confiança que vamos cumprir os nossos objetivos, incluindo o de sermos uma marca exclusivamente elétrica em 2030. A eletrificação não passa apenas por 100% elétricos e temos uma gama alargada de híbridos plug-in que estão a ser bem recebidos pelos clientes.

Faz sentido que os dois únicos elétricos da Volvo, o C40 e o XC40 Recharge, sejam semelhantes e compitam no mesmo mercado?
Acho que são carros bastante diferentes. O XC40 Recharge é um carro que privilegia a funcionalidade. É um excelente SUV compacto. O C40 é mais um carro individualista, virado para o condutor. Acho que estão em categorias diferentes.
Na segunda fase vamos avançar para máquinas elétricas próprias e na terceira fase vamos desenvolver as nossas próprias baterias. Estamos cientes que será muito importante termos um maior controlo sobre as baterias
Henrik Green
Quando é que a Volvo vai atingir um custo de produção de 100% elétricos comparável ao custo de produção de carros com motor térmico?
Estou convencido que o vamos conseguir já em 2025. A tecnologia está a evoluir rapidamente, tanto a nível dos carros propriamente ditos, com destaque para os sistemas elétricos, como na componente da produção.
Qual é a participação da Volvo no desenvolvimento e produção das baterias?
Atualmente estamos na nossa primeira geração de elétricos com os XC40 e C40 Recharge. Nesta fase, o nosso principal trabalho tem sido de integração de sistemas elétricos de fornecedores externos e no desenvolvimento do software de gestão associado. Na segunda fase vamos avançar para máquinas elétricas próprias e na terceira fase vamos desenvolver as nossas próprias baterias. Estamos cientes que será muito importante termos um maior controlo sobre as baterias considerando que são um componente fundamental de um carro elétrico.

Alguns dos vossos concorrentes diretos no segmento premium estão associados à rede Ionity e a Tesla tem a rede Supercharger. Não seria importante a Volvo estar associada a uma rede de carregamento?
Sem dúvida. Mais que importante, será fundamental podermos garantir conveniência de carregamento aos nossos clientes. E estamos a trabalhar nisso. Estamos a falar com diferentes fornecedores de modo que a facilidade e disponibilidade de carregamento ajude a melhorar a experiência de usar um Volvo elétrico. Vamos ter novidades rapidamente.
No que toca ao digital, onde acaba a tecnologia da Google e começa a tecnologia da Volvo? De outro modo, até onde é que vai a integração do Android no C40? Por exemplo, o sistema da Google interage com os sistemas de apoio à condução e segurança
Há uma distinção muito clara entre o sistema de infoentretenimento, onde temos o Android da Google, e os restantes sistemas. Existem informações partilhadas para permitir a comunicação, mas são absolutamente estanques em termos de controlo de modo a garantir, por exemplo, a integridade das soluções de segurança ativas.
A Volvo optou pelo Android Automotive para poupar nos custos de desenvolvimento de um sistema próprio?
Fizemos a escolha que permite fornecer a melhor experiência para os nossos clientes… O sistema de navegação, o assistente digital… Acho que não há nenhum fabricante de carros na Terra capaz de competir com o tipo de capacidade e da escala que resultam do desenvolvimento impulsionado pelos smartphones. Por isso a nossa escolha teve por objetivo garantir aos nossos clientes a melhor experiência de utilização, incluindo navegação, assistente digital e, é claro, acesso a todos as aplicações criadas por terceiros que farão parte do ecossistema Android.

A Volvo esteve envolvida no desenvolvimento do Android Automotive ou limitou-se a adquirir a tecnologia da Google?
Temos uma parceria muito boa e profunda com a equipa Android da Google. Participámos no desenvolvimento e acreditamos que tivemos uma forte influência no produto, nas partes desenvolvidas pela Google. Penso, também, que é uma forma de colaboração na indústria automóvel completamente nova. Não estamos a definir especificações do modo tradicional. Não estamos a enviar mil páginas de um documento Word que especifica, por exemplo, o que queremos que a Google faça. Colocámos equipas de desenvolvimento de software a trabalhar lado a lado e colaborámos na solução.
O Volvo C40 Recharge vai ser vendido exclusivamente online e estar associado a serviços. Isto significa que a Volvo está a tentar mudar o modelo de negócio, a mudar para serviços de mobilidade em vez da venda estrita de automóveis?
Penso que estamos a tentar providenciar uma nova experiência na indústria automóvel, onde será muito mais fácil para o consumidor ter e usar o carro. Em questões como manutenção, reparação e ativação de garantia. Queremos aliviar o utilizador desse trabalho. Contudo, vamos continuar a oferecer diferentes modelos de negócio. Vai existir um modelo de subscrição, tipicamente uma mensalidade para acesso ao serviço que é o carro, mas também vai continuar a ser possível comprar simplesmente o carro. A escolha será do utilizador: comprar ou subscrever. Mas em ambos os casos queremos facilitar a vida do utilizador.
Como é que a Volvo vai compensar a falta da experiência física de escolher e comprar um carro?
Claro que temos os nossos fantásticos parceiros na rede de retalho. Será sempre possível ir a um stand experimentar o carro se o cliente assim o entender. A interação humana será sempre possível. Seja através de ligações remotas, como chat ou telefone, seja frente a frente, numa interação com a nossa rede de vendas.
Como é que vê a competição entre as grandes empresas tecnológicas, como a Google, e os fabricantes automóveis no que diz respeito ao controlo dos serviços digitais a bordo dos automóveis?
Penso que vivemos um período muito entusiasmante e o futuro da indústria automóvel será excitante. Como diz, vemos empresas tecnológicas, como a Google, a investirem na área automóvel. Mas também vejo fabricantes de automóveis, como nós próprios, a tentarem ser mais orientados para a tecnologia. E estamos a ganhar conhecimento e competência para sermos fornecedores de tecnologia aos nossos utilizadores. Como tal, penso este pode ser um casamento entre duas indústrias que irá, em última análise, beneficiar o utilizador, que terá uma melhor experiência de mobilidade em resultado da colaboração entre tecnológicas e indústria automóvel.
Mas não receia que, num futuro mundo de carros autónomos com serviços digitais a bordo, sejam as empresas tecnológicas a dominar a experiência?
Essa é, obviamente, uma pergunta muito interessante. Mas devemos perceber que somos resultado de um fabricante de automóveis relativamente pequeno do norte da Europa. Nunca tivemos a ambição de sermos donos de todo o mundo. Isso nunca foi parte da nossa estratégia. Para a Volvo, esta é uma oportunidade de crescer, uma oportunidade de encontrar novos parceiros de negócio e de avançar mais rapidamente que alguns dos players da indústria que são maiores e, potencialmente, mais lentos.
Se tivesse de tentar vender o C40 Recharge a um amigo, que trunfos apresentaria?
A base é clara, é este fantástico veículo puramente elétrico com o sistema operativo Android da Google. Mas, para mim, a principal razão para comprar o C40 Recharge é a beleza do carro. Acho que é o Volvo mais bonito disponível atualmente.